EPICURO
Epicuro em tempos de guerra
solapando o prazer dos escombros.
Na cilada de sinos e apitos
da guerra; no ócio, sorrio.
A dor é forte nos excessos
& a alegria pequena nos mosteiros.
O enigma da vida vivida
nunca esteve na bula dos remédios.
Caminhando sobre as pedras
nunca quis alcançar os céus
& as profundezas do mar, eu sei
não valem a brisa das areias.
RECALQUES
As culpas do mundo
trago para mim
e as que são minhas
não vivo; projeto
só fico com as dores
que aceito sentir.
O alimento do sonho mata a fome das crianças
os adultos precisam de outro alimento mas sentem à mesma fome.
Quis engolir as páginas do jornal
já que lê-lo não é mais possível
palavras retorcem de todo jeito
lâmina sobre os olhos.
Estralo os dedos; sinto o gelo das mãos
a urgência é da vida e não do poema.
O poema é um preenchedor de abismos.
EU JÁ SABIA
Superar a morte
impõe que se mostre
um corpo nu que
desabrocha a imagem
de uma coisa que não é
um corpo.
Do mesmo modo
a linguagem serve
para desorientar os nexos
recompor os léxicos
confundir com precisão
a nova ordem.
Tudo que se faz para seguir vivo
desacreditar a morte
como fim legítimo
dos objetos que deixamos
a emanar na entidade da
História
com a força do Xamã.
Murilo Petito Cavalcanti é professor de Filosofia e Sociologia em Araraquara-SP. Graduado e mestrando em Ciências Sociais (Unesp Araraquara). Ator formado pelo curso Técnico em Teatro (Senac Araraquara). Desenvolve pesquisas sobre cidades médias, enclausuramento e relações entre o corpo e a cidade. Recentemente publicou poemas pela Revista Habitat.
Comment (1)
Nunca esteve na bula dos remédios!