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Dialética do tronco

por juliana C. alvernaz
Desenho de Ariyoshi Kondo para ilustrar os poemas de juliana C. alvernaz. A ilustração mostra um longo caule verde com folhas de diferentes tamanhos

juliana C. alvernaz (1993) é natural de Rio Bonito, RJ. É professora de Literaturas e possui mestrado (UFF) e doutorado em Estudos de Literatura (PUC-Rio). É filha de Ana cabeleireira e Admilson do açougue. Desde março de 2022, reside em Tangará da Serra, MT, onde se dedica à pesquisa de narrativas angolanas e à leitura, à escrita e ao ensino de poesia. Tem poemas publicados em revistas e coletânea.


Dialética do tronco

A nuca lateja feridas‎‎‎ ‎‎‎‎
(escondidas)
inconclusas obstruídas
pela Leila.

Deslocam-se escamas
do cérebro de Ceres –
aquela incompreendida menina
que revela mais
do que deve. 

Leila e Ceres são opostas
embora o caule as unam.


Horizonte

Da sacada, a vizinha enlutada, solitária ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎
aspira a vida da moradora do segundo andar
o bebê no colo como elo entre suas vidas.

Da sacada, a vizinha puérpera,
embala seu bebê ao aproveitar
a rara fresca do cerrado,
aspira a vida da vizinha que, só com varal,
pregadores desfazendo fios das costuras e
cigarro, compõe sua própria sinfonia silenciosa

Da sacada, o vizinho bebe sua cerveja artesanal
enquanto embriaga-se de vídeos no celular
alheio à existência 
das duas vizinhas
que
comporiam sua paisagem.

No Ensino Fundamental,
aprendemos na aula de geografia:
paisagem é ponto de vista. 


Desenho de Ariyoshi Kondo.

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