Leilane Leta nasceu em 1987, em Aracaju, Sergipe. É autora do livro de poemas Era pedra e se quebrou, recém-lançado pela editora Urutau. Escreve, como não poderia deixar de ser, por linhas extrapoladas. Acredita que antes de tudo, a mensagem.
Inhame
Seguro nas mãos
o inhame cru e
áspero que, sem
grandes pretensões
levarei ao fogo
alto. Enquanto meu ventre
molhado empreende
investigações genealógicas
próprias daquelas que
cultivam o hábito
de mastigar raízes
Gineceu
Dos crisântemos
aos lírios brancos
fala-se do colorido
dos amores-perfeitos
Dizem não existir
entre orquídeas mescladas
azaleias laranjas, gérberas
vermelhas, amarílis, hortências
azuis
Somos dálias
Hidrófilas
Bebendo frésias
Mornas
Indignas
de peônias
Navegando
em vitórias-régias
a flor de lótus
Após o encontro
Mais sagrado
das águas
Dois receptáculos
Tempo de Caju
Quando eu era criança
tinha uma roupa própria
para chupar caju
“Caju deixa nódoas”, gritavam-me
Trocava então a roupa
Corria descalça, protegida
por um agasalho
de verão
Tinha também um cajueiro
com o meu nome
Mas não podia levá-lo
para dentro
de casa
Não me alertavam, porém, das nódoas na pele,
Nem daquelas, por dentro, no estômago,
no peito
Não tenho mais um cajueiro
Só o meu nome
Uma ausência de casa
E uma pele de chupar nódoas
Parede (anti)aderente de
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤmágoas
Após a mordida
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤno
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤCaju
Fotografia: Rio Tamanduateí, antes da retificação – Vincenzo Pastore (Acervo Instituto Moreira Salles).