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madeira, madeixa e redemoinhos

por Ana C. Moura
Desenho de Ariyoshi Kondo ilustra os poemas de Ana C. Moura.

Ana C. Moura é preparadora e revisora há mais de cinco anos, além de editora, tradutora e poeta. É editora de conteúdo da Fazia Poesia, portal de poesia contemporânea do Medium, e em 2023 fez parte da turma do Clipe – Poesia (Casa das Rosas). Já trabalhou em mais de 40 originais, mas ainda não tem um livro com seu nome na capa. Em vez disso, coleciona publicações fragmentadas em espaços como DiVersos: Poesia e Tradução, e A Bacana (Portugal); Latin American Literature Today (Estados Unidos); Torquato, Ruído Manifesto, Mallarmargens, Totem & Pagu, e Verso e Voz – TV Galpão Cine Horto (Brasil). Às vezes a poesia hiberna e se esconde. Aos poucos tem criado o hábito de (re)tomar coragem para mostrá-la ao mundo e de tomar café para despertar.

Ana C. Moura é preparadora e revisora há mais de cinco anos, além de editora, tradutora e poeta. É editora de conteúdo da Fazia Poesia, portal de poesia contemporânea do Medium, e em 2023 fez parte da turma do Clipe – Poesia (Casa das Rosas). Já trabalhou em mais de 40 originais, mas ainda não tem um livro com seu nome na capa. Em vez disso, coleciona publicações fragmentadas em espaços como DiVersos: Poesia e Tradução, e A Bacana (Portugal); Latin American Literature Today (Estados Unidos); Torquato, Ruído Manifesto, Mallarmargens, Totem & Pagu, e Verso e Voz – TV Galpão Cine Horto (Brasil). Às vezes a poesia hiberna e se esconde. Aos poucos tem criado o hábito de (re)tomar coragem para mostrá-la ao mundo e de tomar café para despertar.


madeira, madeixa e redemoinhos

só existir no precipício
caminhar no mar de névoa
a seis pessoas de te encontrar

é preciso combater a caspa
saber o princípio o fim o meio
o alfa e o ômega de todas as coisas

ser ampulheta
ou o violão deixado na outra casa
a vaca que foi pro brejo

estar sempre no seu quadrado
fora das castas
dos cachos que dão os melhores vinhos

viver o círculo vicioso
de jamais descer redonda
pelos poemas
pelo círculo de poemas
nenhuma faísca
nenhum retrato capaz de enquadrar
esse dia chuvoso
esse corte seco
o cabelo liso
o vinagre o amargo das ameixas


o corte e a corte

um texto é só um texto
nas suas mãos vira um rio
é um franciscano
beduíno
monge beneditino
vive de oração
e geme, e chora neste vale de lágrimas
sonha com um mundo sem advogados
com as leis do homem faz troça
troca pelo texto
troca o roteiro
mas um texto é só um texto
nas suas mãos vira um rio
ou terreno baldio
que pende de usucapião


serraria

A memória é uma ilha de edição.
Waly Salomão

um borrão
uma borracha
teu nome me olha
minha mão te apaga.


o jogo e o banquete

eu aspiro
com umidade e entrega
a lanterna que pulsa no meio
das suas pernas

eu aspiro
tem o clima de sonho
o gosto do clímax
o calor do mundo
o fracasso da poesia

eu aspiro
você tem cheiro de ciranda
polissemia
tapete guardado
aspirina

eu aspiro
e a memória tem barulho de faxina.


testamento

A arte de perder não é nenhum mistério.
Elizabeth Bishop

no cemitério do brás
no atentado contra o kennedy

não teve filhos mas
por razões diferentes
do outro defunto

e na lápide
apenas palavras sepultam:
ella não jazzzzzzz
ella dança.


Desenho de Ariyoshi Kondo.

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