Douglas Ferreira, 1993, nasceu em Pirapora (MG) e atualmente reside em Belo Horizonte (MG). Formado em Letras pela UFMG, atua como professor de literatura e editor da Revista Cupim. Possui textos seus publicados na Revista Em Tese (UFMG) e na Revista Opiniães (USP), além de publicar regularmente na Revista Mormaço. É autor de Artur verde (Alecrim, 2020).
Eu, Juliana e Marco viajamos de carro para Pirapora, queríamos assistir ao espetáculo. Chegamos de madrugada, quase amanhecendo, a cidade ainda escura, nada a acontecer, então caminhamos ali por perto, na beira do cais
Juliana ainda não conhecia a cidade, então lhe mostrei: o rio está ali. Ela pisou numa poça d´água, eu tinha tentado, sem sucesso, impedir que ela se molhasse
Chegamos à rampa que desce pra areia, do alto víamos a enorme quantidade de canoas que pescavam. Um velho pescador remava em pé sobre sua canoa, sua pele se confundia com o escuro do céu e da água, de modo que ele parecia um ser, pescador invisível
Ficamos maravilhados
Minha mãe à beira do rio, nos reencontramos num longo abraço. Nós quatro sentados à margem, saudei então a outra mãe, retirando com a mão direita em concha uma porção de água e molhando minha cabeça, meu anjo da guarda, obrigado, minha mãe, dá licença, minha mãe
Amanheceu de repente, o dia clareou de uma só vez, sem nuances
O grupo teatral surgiu, avançando da margem para o raso do rio, deu início ao espetáculo, o figurino dos atores representava a mata, o fogo, o ar. Nesse instante, Marco disse a Juliana: é incrível (…) a cada vez que venho a Pirapora, a cidade se transforma, mesmo para os dois, que sempre moraram aqui, a cidade e o nosso corpo se transformam
Eu já tinha chorado antes, quando o céu ainda escuro, um choro sem lágrimas, apenas a emoção de estar ali, assistindo durar (…) a beleza da minha cidade. Gravei meu choro num toca-fitas, não sei por que razão. Depois me deitei no colo de Juliana e chorei uma vez mais, ela não compreendeu o motivo, quis me consolar (…) então minha mãe explicou o que não sabia explicar: eu amava (…) eu chorava porque amava
Fotografia: Pescador na Praia de Botafogo – Marc Ferrez (Acervo Instituto Moreira Salles).
Comment (3)
Douglas Ferreira…
Esse meu filho amado e querido,que é sem sombra de dúvidas, o meu maior tesouro.Esse professor que me faz carinho no ego,na alma,no espírito…
Ficaria aqui,elogiando esse exímio escritor que é só meu,eternamente.
Me fez chorar sem lágrimas.
Vc é o melhor,meu filho querido,te amo ❤️
Quem tem mãe tem tudo <3
Que lindo! Viajei contigo.