Monique Bonomini, de São Paulo, atua com leitura crítica e revisão. É autora e apresentadora do podcast literário Abismos para evitar ruínas, no Spotify, e tem textos publicados em coletâneas, zines, revistas digitais e portais pela internet. É integrante e uma das coordenadoras do Coletivo Escreviventes e ainda compõe o Coletivo Ruído Rosa e o Clube de Ficcionistas.
Tantos problemas quanto as pintas de um dálmata
Mover os pés e alcançar o cão
Arregalar os olhos
Pintas em profusão, tanta preocupação,
Olhe em volta
Estão por todos os lados.
Problemas não se resolvem,
Têm família grande
Um no quarto, dois na sala, outro na escada
Percebo, Leminski
Por aqui já formaram uma matilha.
Xô, xô!
Eles chegam pequenos, inofensivos
E então nos tomam pelo lasso
Voltarei a dormir, que já não posso com tanta aflição
Espero que ao acordar estejam todos longe daqui.
Tudo é único antes que se aglutine
Uma coisa nunca é uma coisa só
Carrega consigo aquilo de que é feita
Tudo é único antes que se aglutine
Uma coisa é tudo de que é feita
Embora também seja mais do que isso
Uma pessoa nunca é uma pessoa só
Ela é feita de ontens, hojes e amanhãs,
De deveres, desejos e devires
Uma pessoa é tudo que ela sente e vive
Embora, também, seja mais do que isso
Pessoas e coisas, sozinhas, não dizem muito de si
Esbarram nos limites das aparências
Coisas acontecem às pessoas
Pessoas com coisas, todas, as que quis e as que lhe deram
Tudo vira uma coisa só quando se aglutina
Sem direção
Ninguém caminha a quatro pernas
Duas mãos só empunham uma espada por vez
Uma lição que se ignora
Sela o destino
Como uma flecha lançada
Que percorre um caminho sem volta
Incertezas se erguem
Como árvores num adensado bosque
Alçar novos voos
Assumir outros riscos
Pular de precipícios
Nadar sem direção
Na fuga só é possível levar o próprio peso
Desenho de Ariyoshi Kondo.
Comment (2)
Lindíssimo poemas, Monique. O terceiro é meu oredileto. Parabéns. Vera
Belíssimos Poemas. Uma gostosura de ler.