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Tomar nomes e tempo naquele pequeno apartamento

por Gabriel Gonzalez
Fotografia: Casarões – Marc Ferrez (Acervo Instituto Moreira Salles).

Gabriel Gonzalez é mineiro e vive no Rio de Janeiro. Tem poemas publicados na antiga revista Zzzumbidos, na revista digital Mallamargens e na antologia Poetiza. Cursa mestrado na Universidade Federal Fluminense em Teoria literária e Literatura Brasileira. Ali, estuda poesia contemporânea e sabe muito pouco o porquê.


I.

alheio ao toque. se aferrenhava. não. melhor falar em primeira pessoa. me aferrenhava. fazia a distância durar. sem falar em seu ou meu corpo. na sombra a chama se espreme. cimento e caldo. pensa. os olhos difíceis de levantar. difícil como dizer. completaram-se cinco meses que não pisamos fora daqui. então o silêncio. sem falar em algo do presente e das misturas.

II.

não houve reação. voltou ou voltei já não sei aos tacos. já os contei cento e duas vezes. somam três mil quatrocentos e cinquenta e seis tacos. alguém pensou em marx. em seu corpo. ou no meu corpo. se pensou em uma linha de produção. nesse corpo pensado em uma linha de produção. finalmente a conta fecharia. então um retrato passa. pairando sobre a água. logo ali. onde sempre o frustrou. 

III.

à cinética se deve uma espécie de excesso. uma espécie de espécie de excesso que é um corpo. um entre os muitos corpos e movimentos. é difícil saber se eu ou vc pensamos. se pensei ou pensou nos lábios de demócrito. devagar a se abrirem ao sorriso. do sorriso a uma risada. desgrenhando uma gargalhada. pequena ou grande. uma gargalhada. então o eco de muitas outras pequenas ou grandes grandes mesmas gargalhadas e seu somatório infinito que no limite dava no lugar mesmo onde nunca terminamos. talvez fosse isso que viu hölderlin. ali. louco. parado. diante daquilo tudo.

IV.

talvez tenha visto fotos demais. sem falar em corpos. talvez tragédias demais. talvez fosse hölderlin que viu isso. ali. não conseguia mais contar. vc ou eu ou quantos de nós. as juntas dos dedos doíam. parecia ainda mais peso. em seu corpo. em meu corpo. ali. já um grande hospital. 

V.

às vezes achava que era um grande hospital. às vezes um jogo. às vezes a velocidade com que os dedos se movem sobre a tela é um jogo. às vezes incapazes de fixar uma única imagem. o demônio a marca o corpo sem falar do fogo no ouro dos olhos. às vezes esse peso é pura paranoia. às vezes não.

VI.

mas aquilo nunca lhe moveu. você e eu seus olhos. não os meus. sem falar em seu corpo. pairando. o desdém à beira do abismo. à beira de um surto. pascal em si tinha um abismo se movendo. disse citando baudelaire. nada mais curioso. nada mais analítico poeta. talvez façamos uma fogueira esta noite. talvez isso alivie um pouco a tensão posta sobre a primeira pessoa.


Fotografia: Casarões – Marc Ferrez (Acervo Instituto Moreira Salles).

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