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VELHICE

por Kissyan Castro
Desenho de Ariyoshi Kondo de um girassol amarelo visto por trás da direção da flor.

Kissyan Castro (Barra do Corda/MA, 1979) é poeta e pesquisador maranhense, graduado em Letras pela Universidade Federal do Amapá. Autor, entre outros livros, de Bodas de Pedra (Chiado, 2013), O Estreito de Éden (Penalux, 2017) e Pássaros Lacunares (Penalux, 2023). Tem poemas publicados em diversos sites, jornais e revistas eletrônicas, entre as quais Germina, Mallarmargens, Literatura & Fechadura, Acrobata e Portal de Poesia Ibero-Americana.


VELHICE

nenhum hóspede povoa o dito
que na palavra quer ser mundo  

só navios latejam no fim do rosto
do meu poema até os pombos
já voaram


MASMORRA

posso no trotar do sonho
ser o sulco dos rastros
que circunscreve a manhã

ou do cavalo o tumulto
de incontáveis léguas
que nos cascos sonha

posso ser todo distância
a chegar em mim


ZÊNITE

cada cama se reparte em seu fruto:
pégaso nos pélagos da polpa

o sexo range nas dobradiças
para o romper do dia


GRAVATA

há um poema em volta de mim
na minha cola
que me ergue o sangue
que me puxa a gola

afoito feito tudo aquilo que depois
se joga fora


OUTRA INFÂNCIA

sempre que meus pais brigavam feio
me trancava no banheiro
olhava as mãos entre soluços
que fundo
procurava nas linhas confusas da palma
um mapa que me apontasse a saída

eram eu e minhas mãos
num mundo irreconciliável

hoje adulto ainda olho as mãos
as esfrego
como para apagar aqueles gritos na sala
aquele invisível mapa que me aponta sempre o mesmo
banheiro

e eu não sabia que estava vivendo a minha comprida história
(sem cruzoé
ou sexta-feira)
num banheiro que não acaba mais


Desenho de Ariyoshi Kondo

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