Dois ou três estudantes jogavam buraco enquanto trocavam ideias, risos e lembranças. Entre a ideia reinava o riso, entre o riso a lembrança e na lembrança a saudade. Quando um descuidou das saudades do passado, e cada um confessara a sua derrota amorosa, eis razão de três terem se tornado dois.
“Ela vai voltar”. Disse um provocando o sentimento do outro para que ele perdesse a concentração da mesa; o outro entendendo deu um só salto e soltou
“Não é isso que eu espero…”. Um silêncio se formou e o estudante da vez ficou taciturno e um pouco reflexivo. Um mosquito, que é a filosofia, senão também a vida nesses momentos frio-quente da imaginação e de grande conclusão, veio e picou-lhe o pescoço, e como sintoma, a língua inchou:
“ …A vida é como um deserto, para mim, e eu sou como um peregrino e seu camelo nesse espaço. Meu sentido é um só, frente. Estou a procura do nirvana, talvez. Meu passado não acompanha os meus passos que seguem, conquanto sejam eles criadores dos passos procedentes. Sendo eu o peregrino, meu camelo só meu camelo mesmo, o deserto a vida, meu passado são os grãos de areias espalhados, inclusive no meu futuro, que se amontoam atrás de mim e me fazem sombra, mas não me ferem, pois se desfazem com o vento, isto é, com a memória. Eu sigo enquanto atrás de mim esse passado se desfarela cada vez mais que sigo. E quanto mais eu vou mais passado crio, mais grãos de areia me cercam. E só de vez em quando, quando tomado de um desgosto profundo, eles me vêm em forma de tempestade e me cercam, todos eles. Mas tranquilamente me cubro com os panos das três classes, me aconchego na barriga do meu camelo e espero a tempestade passar.”
E dizendo isso caiu em profundo sofrimento de uma lembrança vaga de um dia 12 de junho:
Ele ia de cabeça baixa elucubrado, xingando mentalmente com os dentes fincados nos lábios e os punhos iam como as patas de um cachorro, cinco dedos pareciam três de tão cerrados. Estava na praça Xv, melhor no Boulevard da praça, quase em frente ao famoso ccbb, quando ouviu uns passos convulsos como se fosse receber um choque, uma batida nas costas. Quando virou, com efeito, recebeu um empurrão violento que caiu como uma criança atropelada por um adulto, e só quando viu quem era é que aquela raiva estranha tomara corpo e violência de fato. Esperou Mayara tomar uns cinco passos a sua frente e então se levantou e passou a correr atrás dela deixando ela ganhar uns passos a frente e dando a si mesmo tempo de reflexão. Depois de correr meio espaço do comprido, ele a alcançou; ela, com medo do que fez, parou para ver a reação dele, desejava um bofetão – o inconsciente provoca efeitos de um deserto frio desconhecido pelo calor da consciência; um sentinela do exército vendo uma possível violência pegou o cassetete e correu, naquele mesmo instante em que nosso Leandro correu atrás dela.
“Tá contigo”
“o quê, não entendi”
“A raiva que você me passou, tá contigo.” Um choro subiu de ambos os lados “perdão, perdão, fui impulsiva, tínhamos acabado de disc…..”
“Não quero mais. Raiva, ódio, mas nem tanto. Adeus”
G.G. é tão-só estudante Universitário pela UFRJ