Yvonne Miller nasceu em 1985 na Alemanha, mas prefere o calor do Nordeste brasileiro, onde mora desde 2017. Cronista e contista, tem textos publicados em várias antologias e é uma das organizadoras e coautoras da coletânea de contos cearenses Quando a maré encher (Mirada, 2021). Seu próximo livro, Crônicas da Mata (título em construção), vai ser publicado em breve pela editora Aboio.
— Segundas e quartas, oito aulas no total. Bora?
— Bora!
O que eu estava pensando quando falei aquilo? Poderia estar tranquilamente na minha casa; planejando a mudança, lendo um dos tantos livros que me aguardam na estante, escrevendo, assistindo a This is us, lavando roupa – agora que a máquina resolveu cooperar de novo – passeando com Chico ou simplesmente recuperando o atraso no trabalho. Em vez disso estou aqui no centro antigo, numa sala vazia com janelas verdes e abertas de um lado, e um espelho grande do outro. Se bem que vazia-vazia a sala não está. Somos vinte pessoas nela; todas igualmente descalças, todas encostadas nas paredes, algumas sentadas, outras – como eu – em pé. Olho por uma das janelas verdes e abertas e respiro a noite recifense. Olhar por uma janela sempre me tranquiliza. Lá embaixo, à esquerda, num canto da praça, aquele barzinho onde Clarice tomou seu famoso maltado continua aberto. Numa das mesas na calçada, Larissa está esperando minha aula terminar para começar a dela.
— Tem duas turmas, iniciantes e iniciados — ela tinha dito.
— Num tem pré-iniciantes, não? No fim das contas sou alemã…
Nessa hora já estava me arrependendo da minha empolgação inicial.
— Bobagem, você sabe pular!
Então é isso. Plena segunda-feira, sete da noite, e eu aqui. Os outros 19 iniciantes me olham de soslaio. Conheço esse olhar: sou a única gringa na sala. Talvez deveria ir aquecendo o quadril. Porque pular eu sei, até forró eu gosto de dançar pulando. Mas isto aqui é outra coisa. Forró é pra principiantes. Isto aqui é Pernambuco raiz, Pernambuco para quem aprendeu a dançar antes de aprender a andar, Pernambuco para amantes do carnaval nível hardcore. E eu, no máximo, curto um pré.
Começo a alongar e aquecer meu quadril alemão. Pelo menos não começarei a aula despreparada. Logo frevo! O que eu estava pensando quando falei aquele bora?