madalena vieira é sonhante, amazônida, sapatão e candomblecista. quase letróloga diplomada, pesquisadora de literatura e estudos culturais, professora, redatora, revisora e aflorada por tudo que a palavra não diz. lê, mais do que diz e percebe, mais do que olha. dirigiu o documentário independente MUJ(ERES)? e publicou nos mais diversos chãos de estrelas. e, por fim, madalena também é pseudônimo de bianca vieira.
1.
bicicleta, cerveja e água
meu nascimento foi coroado pela intersecção
entre o ar e a água
desde que mapeei meus planetas
foi até interessante fingir que existimos
no mesmo plano
subiu um ódio em mim ao notar sem pretensão
que você acordava cedo e pedalava na orla
sorridente, protegida, iluminada no vão
que cabe seu medo e o meu
pensei o quão sensual era você entender de cores, roupas, modas
configurei até armadilhas intelectuais no fundo do vinho
discutimos de ser: um francês, meio argentino, pinot noir
sem blusa, luz, segredos
fingi caçar sem notar
que desaprendi meu português
e preferi habitar a polifonia fonética do teu céu da boca
hipnotizante,
meu delírio pantera, panteão estrelado
te suplico ao senhor do bonfim
beija minha mão?
quero tua benção, mon chéri
o sol engoliu nós duas a fundo num lençol quieto
matte de limão escorreu pelo seu queixo
quis lamber
e sentir o tempero dos seus olhos
depois de ressacar todas do djavan
e me molhar
fora d’água.
odeio perder o fôlego nadando
mas mesmo trôpega
voaria até teus pés.
assim aprendi com ana cristina.
tu te lembra?
é muita água até aqui, meu amor,
mas te espero no rio negro.
2.
espelhos
brinco de me olhar com você por perto
toco meu mindinho no seu indicador
acompanho – corpo a corpo-
o reflexo
disputo qualquer prêmio
pela maciez com que as palavras saem do teu dizer
sentindo mãos quentes
às cinco da tarde
qual o teu nome? não sei se já te vi. mas quero te conhecer.
tudo é muito frenesi
tudo existe
eu quero fantasia
sua matéria
erótico da heresia
meta – linguística – literatura – língua
minha boca você tira
tudo se explica.
Foto de Anna Carolina Rizzon.