Maitê Lamesa é mãe, natural de Jaú/SP, advogada formada em direito pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e mestranda em relações internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC-SP). Mora atualmente entre São Paulo e a zona rural de São Joaquim da Barra/SP. Escreve desde 2008, mas apenas em 2022 resolveu começar a publicá-los, para acalmar águas internas, para voltar a respirar.
Boi do Maranhão
Alegria da manhã
pulso forte da brasa
vem me apanhar de impulso
num aboio em ritmo circular
o chão de terra pisada
compactando mensagens
conduz-me às tribos dos encantos
em que não há na tradição
sombra de palavra morta
Forte fôlego da figa de uma folia festeira
em rubras sombras e penumbras
a imaginação é deslumbre rupestre
nas paredes das lembranças
Sou criança
e a rabeca soa à distância
rústica sonata mágica
as paredes ásperas do quarto
A imaginação,
janelas entreabertas
O vento bate forte lá fora, leva as portas dessas mesmas janelas
É fogo, não vento, quem vem me chamar
Ao outro lado eu vou
da imaginação
Na toada de um boi imaginário
Virando um leão virado ao avesso
Revira, me viro na virada do toque
É o repique do pandeiro
e a imaginação é a pedra de toque
a memória vai fazer recorte
De espanto se vai o espanto
expulsando a calmaria
num brado em meio ao dia
E a cantoria do meio-dia
Se esvai, vem a folia do silêncio
o negrume da noite.
vem o medo da meia-noite
a se calar na escuridão
da madrugada.
Zunido
Corre mansa e apartada
Essa voz dilacerada
Vem fininha, tilintando
Vai tinindo, e num segundo, engrossa
Os pés do ouvido se põem a correr
Parecia experiência de viver e de morrer
Arte: Orchestra Musicians, de Edgar Degas.