Murilo Petito Cavalcanti (Araraquara-SP, 1996) é professor de Filosofia, História e Sociologia. Mestre em Ciências Sociais pela UNESP. Ator de formação pelo SENAC-SP. Tem poemas publicados nas revistas A bacana (Portugal), Aboio, FrentesVersos, Habitat , Mallarmargens e Ruído Manifesto.
o fôlego acaba e eu ainda corro.
minha pele
não é uma armadura, mas sim
o que me guarda
e abre para o mundo.
Ogum
é minha armadura espiritual e também
uma fonte de onde um guerreiro
grita loucamente.
não é possível medir a distância que há em um toque
não há motivos para estar distante.
hoje mesmo
podia ver na pele do meu rosto e na pele dos meus olhos
o dia em que você me humilhou
o dia em que fumei como no resto do ano inteiro.
no meu rosto também está aquela senhora que saiu aos prantos do serviço.
eu gosto de saber que a sua pele
esconde marcas mais profundas que as minhas
e ainda
com a doçura de uma flor num jardim de primaveras
você me deixa vê-las.
carrega a fúria dos raios de Iansã
diante de toda luta uma vontade
de ver todo o sangue que há sobre a terra
reverter em alimento.
podemos dançar sob o signo de aquário
durante o mês de fevereiro
em maio eu me desmaio
em junho eu terei 26
em setembro falaremos com dor e amor
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤdo bicentenário da independência do país
em novembro saberemos
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤdo próximo presidente
uma cartomante te dirá
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤque a chuva pesa mas também rega os corações molhados.
cartografar o mundo
eis um objetivo:
mais do que isso: uma impressão
ou uma imprecisão
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤcheia de rasuras.
fixar no mapa
ㅤㅤㅤdo meu corpo
todo sim e todo não
todo céu e todo chão
ㅤㅤㅤtempos vindos, temporão
beijo paisagem ofensas fome e tesão
esse cheiro de vida rasgada é a cor do meu poema.
É preciso confundir a sorte com uma estrela cadente
isso é o que penso tendo
meus sonhos entre os dentes.
Intuição:
remédio da cabeça
louca de razão.
Foto de Anna Carolina Rizzon.