Erlândia Ribeiro é escritora, tendo publicado o livro de contos superfícies irregulares pela Editora Kotter em 2019 e seu mais recente livro de poemas, vermelho/ruína pela Editora Urutau em 2021. É mestre em Estudos Literários pela UNIR e atualmente é doutoranda em Estudos Literários pela UFES. Trabalha com os diários da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972), seu objeto de vida e de pesquisa. É uma das fundadoras do Clube das Escritoras de Rondônia.
peso torto
tenho pensado que a cura só me vem
quando me vejo sozinha
e percebendo ao meu redor
que só eu mesma
me sustento
falo do corpo
mas falo também
da cabeça
que apoia
tudo o que
dentro
pulsa
e pesa
quantos movimentos
suporto
ou aguento?
quantos movimentos
dizem
quem eu sou?
numa noite alta
eu estraguei tudo
numa noite alta
você foi
a minha melhor surpresa
os mesmos dias
em anos passados
deslocaram uma pedra
de traumas
celan compreenderia
pizarnik compreenderia
quem é você então
que não me compreende?
amparo no meu corpo
os absurdos
de dentro
e encaixe nenhum vale
para manter esse peso torto.
impasses
(quando o grito arrebenta
aos olhos de ninguém
e tudo que se pode
é continuar escrevendo
ou atirar-se)
errantes
orientações não seguidas
pois
nossos desvios são também escolhas
quando sofremos à noite
abrimos um abismo
quando brindamos a loucura
sabemos o que é a liberdade
de destino em destino
fomos concebidos
entre o lixo e o sonho
entre contagens regressivas
círculos
quebrados
nunca célebres
sempre anti-heróis
infelizes
insubordinados
a pureza arrebenta
e você me comove
como ninguém.
Foto de Luísa Machado.