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O maestro

por Pedro Lucas Rego
Foto de Leopoldo Cavalcante para ilustrar o poema "O maestro", de Pedro Lucas Rego.

Pedro Lucas Rego é maranhense e cursa Direito. Escreve a passos lentos e publica alguns de seus poemas na página medium.com/@pedrolucasrego


O maestro

A meu pai

Na várzea-palco do América,
Bimbinha dava seu show:
tabela, traçou um-outro,
carretilha! enfim: três gols.

Ainda lembro dos dribles
e do terno bem cortado,
pois tinha ares de maestro,
regia o grosseiro ao garbo:

qual tocasse violino,
dum lançamento pesado,
acalmava a bola no ombro
com o queixo, parecia fácil.

Depois, armava ao ponteiro
(prelúdio num contrabaixo)
que arrancava na esquerda,
solista: ele, deus e o diabo.

A bola foi dominada,
começou bem, pedalou —
e hesitando foi pra cima,
esperávamos o gol.

— Bate de chapa rasteiro.
— Vai vai, humilha o goleiro.
— Bate de chapa rasteiro.
— Vai vai tá vindo o goleiro.

E antes de qualquer ação,
topou no monte de areia:
levantou-se envergonhado,
todo sujo e sem chuteira.

Mas no meio desse time
que em sonatas desafina,
que Bimbinha encantava,
compunha suas fantasias.

E era bom narrar o América
quando a glória era a certeza,
pois não era só o maestro,
mas sim a orquestra inteira.


Soneto das mariposas

Os homens aglomeram-se na esquina
Sob o poste de luz amarelada.
Vestem terno e gravata, mas às quintas
De promoção, preferem vil fachada.

Vêm os casados, virgens e os batinas
Desfrutar a magia da bruxa Marta.
Na rua, cheiro de mijo e de vagina
Complementam o balé da mais amada.

— Insepultos senhores, santo pai,
Vossas honras são murchas, o intelecto,
Baixo. Então vos ordeno: aqui, elevai!

E os homens admiravam-nas eretos,
Enquanto a mariposa alcoviteira
Evocava as mulheres feiticeiras.


Herbarium

i. rosa

da morte
fez-se a diadema
pois da ninfa debruçada
Clóris extraiu a cor
por Dionísio perfumada
assim fez-se toda feminina — requintada
pelas elegias de Propércio
ou por versos apenas confessos
nos quartos escuros

desde então
altiva e cruel
impera a rosa cuja mão aguda
e as faces intermitentes
fustiga os românticos escravos

ii. cravo

um craveiro espeta
em labaredas
um labirinto onírico
cheio de meandros
estreitos de espinhos
os cravos vermelhos
percorrem longos caminhos
e numa fome de tudo
pelo hipnótico fim
perdem-se e exaurem-se tísicos
mas há sempre o cravo
que ao vento se lance
que a confluência alcance
e qual borboleta flutue
em trêmulo voo
até o chafariz


Foto de Leopoldo Cavalcante.

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