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Rosas de plástico

por Júlia Gomes
Foto de Luísa Machado para poemas de Júlia Gomes

Júlia Gomes é norte-mineira e estudante de Letras (UFMG). Gosta muito mesmo de outras coisas, mas só sabe escrever.


rosas de plástico

as moedas sujas
e tudo reflete amarelo

– o primeiro toque no ombro –
tateando a alça caída
assim como a postura
⠀⠀⠀⠀acanhada

o tom se arrasta
a risada que se estende demais
é pregação fervorosa

e em seu final
(após a redenção
que ignora o espelho)
bem depois da primeira porta

O segundo toque no ombro

e no escuro
listas de mercado manga rosa rabisco agulhas
e últimas páginas de caderno
onde arranha a garganta

e soube tudo na primeira noite
mas quando perguntei meu nome
não sabia


mel

escorre de minha boca enquanto falo
formigas
sobem minhas coxas enquanto danço

braços
se elevam
estico as pontas
giro os pulsos sem parar
arrasto as cadeiras
empurro o tapete

estalo inteiro.

encaro a fresta na porta
e ela me encara de volta
tento a distração

arreganhoaporta
e a sala inunda
areia morena enterra

sem lágrimas alheias
desejo deserto
apenas loiras em chamas
com os pés no mar que ameaça


você é bom de imagem

sabe que eu nem penso tanto
na imagem em si

pensei no seu rosto
com insônia na cama

rolando de um lado pro outro
pensando um tanto de coisa

lembro, com certeza
lembro de tudo

imagem uma vez aqui dentro já era

mas tem muito tempo que não te vejo
deve ter mudado


depois de contar até z

e decorar o nome do antigo fixo

o sangue escorre pelas pernas
na casa de paredes descascando
em que nunca quis ter estado

depois de perder o ônibus
a saia passar dos joelhos
boca vermelhar-se,

barriga crescer
e deixar de sonhar

depois de algumas taças
e de pecar em pensamento
cravar as unhas na carne
revelando os segredos das camas, dor diária e ladrilhos sujos

depois de berrar
que não ouvia minha voz
e arrebentar as cordas restantes
corroendo garganta gritando
caralho
as lotéricas, os pedágios, as roupas, os pedágios

me chamou de intratável

por quê?

no primeiro suspiro
manchou meu rosto
de palidez e vermelhidão
para que gozasse
nas memórias futuras


Foto de Luísa Machado.

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