Tadeu Renato é formado em Filosofia e Artes Visuais. É mestrando em Letras pela UNIFESP. Dramaturgo, tem peças encenadas por diversos coletivos da capital paulista. É autor do livro de poemas letras para melodias corporais (Edições de Risco), lenz, um outro (teatro – Edições de Risco), Genésio, a cobra acrobática (infantil com Daniel Gatti, pela Lamparina Luminosa) e Licantropia (Edições de Risco).
REVELAÇÃO
Lá vem você, cantando como se
não houvesse uma lua aos pedaços
lá fora e cada despedida de rasgar peito.
Agora capaz de dançar:
acha que é calma essa hora
grudando agruras nos postes
despojados. Vai dizer que é normal ser
essa ciranda de luz de fazer benção
minha miopia – que deu de disfarçar
os poços e as minas (os buracos
e os dias). E essa língua
alimentando de alegrias
a palavra paixão? Quer que releve
todos os trabalhos só para olhar
sua graça, não é, não? Agradeço.
MARCA
Esta sombra na pele
é lar: fresta
por onde adentra
meu outro endereço,
trabalhador do diferente
turno, o duplo
vestido de excessos
e abandonos vagamente acesos.
Um sinal à vista de toda terra,
(para que eu não me ache)
ninho onde o tempo assenta
o que, em mim, é avesso.
VIDEIRA
sei dessa gula por legumes mornos
o odor de vapores pelos poros
a comida que te beija e recolhe
mas que tal cerejas ou outras frutas
cacho gelado de uvas maduras
pingando a polpa viscosa e feraz
a cor pura cheirando à vinho seco
pontos santos nas videiras do sexo
semente acesa no cimo do seio
eis o cultivo em trilhas estreitas
que a queiram galho de trepadeira
as vulvas das uvas que te ofereço
ILEGIBILIDADE DESTE MUNDO
Estou pronto para aprender
um novo idioma. Desejo
agregar margens e sílabas
à anseios inconscientes.
Quem sabe eu me depare
com termos escabrosos para
execrar passantes presentes?
Penso, assim, alongar a língua
até onde não há conceito
que dê nomes à sombra do pó
ou ao gesto de amenizar
as dores paridas em mangues.
Estou pronto e me desespero.
Foto de Leopoldo Cavalcante.