Luiz Henrique Zampronio é de São Lourenço do Oeste – SC, mas mora em Florianópois e faz Letras – Inglês (Bacharelado) na UFSC. Não sabia que era escritor até 2021, quando entrou na faculdade e começou a estudar literatura. Tem muito gosto por tradução e poetas como Ana C., Sylvia Plath e Richard Siken.
dentro da floresta um menino
morde o dedo de outro
e a floresta vem
até aqui
silenciosa
sem anunciar um milagre
CLÍMAX
a flor de laranjeira no cheiro da minha cidade
esquecida entre poemas iniciais no algodão
de diários adolescentes traduzidos por mim
a rua do meu bairro brilhante de postes laranjas
de filmes noruegueses asfaltada para a retomada
da minha brasilidade onde vou deitar cansado
ㅤㅤㅤrezas de fim de tarde acolchoadas
ㅤㅤㅤpara a sacralidade do que socorre
ㅤㅤㅤa carência duma vida de verdade:
uma santa, o eucalipto quente e o verso batizam
minha noite imaterial e última feito gole d’água
que nem o escuro da noite engole, em cena.
MITOLOGIA PEQUENA
entre o fim da madrugada e o começo da cidade
derramar um navio na beira da minha boca
me fez cair na luz que trinca as taças
meu coração no cálice entregue
por isso existem médicos infiltrados de bartenders
que transplantam– solar– o órgão aos precisados
médicos barbados com nome de poetisa
meu medo no cálice entregue
entre o primeiro golpe de ar e os cacos prestes a cair
o leite nas pedras de calçamento lá fora
se passaram vinte segundos desde a meia-noite
meu medo no cálice entregue
NOVELA
isso não te diria
mas a magia
te queria hoje
mas ainda
não me curei
18.05.2031
bem, me curei
vamos querer
de hoje até
um de nós
saber quando
18.11.2031
no meio do
teu peito-vale
nos quero no
meio da rua
até júpiter explodir
18.12.2031
CIÊNCIA
além dos mosaicos envelhecidos
de reitorias e barzinhos tombados,
ficam salas nos confins do mapa
onde preveem o futuro da arte.
além dos prédios escorridos
de anos de rímel e infiltração,
pulam debaixo da terra
os que não querem ressuscitar.
além dos córregos transbordados
de vinho barato e ovas piratas,
lambem-se bocas molhadas
olhadas nos nervos do brasil.
Ilustração: Oranges – flowers and fruit de Artemas Ward (1923).