Maiky da Silva nasceu em Cansanção, interior da Bahia, em 1996. Em 2019, publicou Ave, Eva! Ecce Homo e em 2021 lançou Corpo-Cátedra, ambos pela Editora Urutau. Atualmente reside em Feira de Santana, Bahia, onde cursa Letras na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
3×4 não é doze
olhe: eu não preciso contar mais;
só confie que chegarei armado até os dentes,
quando for preciso; nem sempre é;
veja: eu não preciso defender
nem minhas próprias convicções:
as coisas se impõem tesas, sem escape;
eu não preciso traduzir nada; esqueça,
eu nunca afirmaria que eu já sou eu;
mas gosto que vejam em meu rosto
a minha mais profunda sinceridade,
não meu décimo pedido de perdão;
o arrombar da porta
uma madrugada assim não caberia em mim nunca,
se os quarenta anos de insônia
que atravessei nos últimos dois anos,
não me tivessem dado
um coração que bate;
que realmente bate; até derrubar;
a volta
deitei, sentindo ainda
teu corpo;
como quando criança trazia
pra cama,
os avanços delicados
da água;
e a inocência, de chamar
um rio de mar;
nós, da raça de cães sinceros
não me importa nada te ver assim cercado
da matilha de teus amores;
desde que seja eu, esse cachorro mais altivo;
de entre eles, o mais perto & possível;
desde que seja eu
o cachorro mais bravo a morder teu rabo;
as mortes de Jacinto
‘quanto fosse necessário,
eu te deixaria ganhar;
de cima parece jogo,
de longe parece corrida,
eu te deixaria ganhar;
eu te deixaria ganhar,
pra te ver se afastar,
correndo frente à vitória:
me esconderia na sombra,
de algo mais bonito,
que a minha vitória;
quantas vezes fosse;
se fosse, necessário;
tantas vezes seria bom:
me esconder na sombra,
de algo mais bonito,
que qualquer vitória;
Arte: River at Noon, de Ilya Ostroukhov.