Deanna Ribeiro é de Olinda-PE e graduada em Letras pela UFPE. Em 2012, publicou o livro autoral de contos “As mulheres que não cabem em mim” pela Editora Multifoco e , desde então, vem escrevendo sob o comando das forças do tempo e do vento, sem compromisso com a regularidade. Participou de antologias poéticas em meios físico e digital; dentre elas, “Quem dera o sangue fosse só o da menstruação“, Editora Urutau (2019). Tem outros de seus poemas publicados pelas revistas Subversa, Toró Editorial, Poesia Avulsa e Ruído Manifesto. Costuma divulgar suas artes, através do instagram @deanna_ribeiro.
A trincheira da palavra na fronteira d’água
Se eu não fosse gente seria água
um rio de leito largo que atropela
e na enchente leva pasto planta casa
ou maré alta que puxa pra dentro dela
seria córrego que corre manso
arredondando pontas de pedras
no caminho de terra aberto
há tanto tempo
seria chuva que desce rápida e sobe mormaço
calor que vem de baixo cheirando as pernas
até zumbir na cabeça
ou o suor no caminho inverso
se eu não fosse gente
certamente seria foz ou fonte
a baba da boca de quem dorme
ou a saliva de quem tem fome
Outra forma de matéria
À Monique Lima
palavra minha
mordida por lâmina precisa e dura
úmida de tua língua a moldar-lhe formas
ainda mais sentidas
fundos
vindas do abismo da garganta
antes
palavra minha
teu sopro em seguida
vida da boca de um deus-fêmea
as origens as primícias de tudo
em tua acústica palavra minha
um big bang quase sem barulho
Foto: Luisa Machado