Lucas Pimentel nasceu em São Paulo em 1994. Formado em Gestão de Marketing. Nunca conheceu sua linhagem a fundo, usa então a poesia para preencher essas lacunas genealógicas. Publicou diversos poemas nos portais Fazia Poesia, Revista Aboio, Revista Caxangá, Trama Bodoque e Revista Tamarina.
Atravessado
Descende de um canto profano
Equilibrando-se entre hiato e compulsão
Meu exagero fará uma tapeçaria a cada
Vez que nós colidimos com o corpo
Comia a véspera nesta ânfora
Deixada para trás ante as inseguranças
Poderia este aroma de substância sui generis
Pautar as previsões que nunca me encontram?
Naquilo que ofereço habita um espanto
Nem tão abominável para te afastar
Nem tão propício para utilidade pública
Entretanto, há um fator de atração entre ambos
Soletro teu nome como se erguesse uma torre
Os espaços em cada uma das letras
Minha respiração se ausenta até que eu
Consiga terminar os gestos do teu nome
Eu precisei esparramar fissuras pelo mundo
Antes que conhecesse o alívio dos teus braços
Vagaria inacessível em cada notícia tua
Vinda das bocas mais conspiratórias
Tentei tantos encantos, engenhei tantos atos específicos
Um milagre ocorreu quando tua boca encaixou a minha
E tuas mãos procuraram as minhas e nossas peles
Dançaram um samba lento entre enguias translúcidas
Tão híbridos e irrefreáveis
Você me acha outra vez quando
Engatilho a entonação da minha nova prece
Você me antecipa sorrindo: Sim, eu sou sua
O sopro e a intenção daquelas palavras
Pulverizaram meus olhos e meu cinismo
Tudo que fizera desde então é me afundar em você
E descoreografar tudo que sintetizei até então
Para Conciliar Artistas é Necessário Experimentar a Expectativa Materna da Memória
Os homens são catástrofes, seus filhos guernicas
Estrelas perigam repartir o Éden em cinco
Faces sobrenaturais, todas as divindades pairam
O momento ideal e oculto, antagonista ao engajamento
Uma vez mais, no ápice da solidão
Inventa rituais para convencerem
A mascarar o seu regresso
Entre os intervalos de rotina
Imprescindível tração tramando
Um louvor para despedidas
Ainda tão profanas e covardes
Sem coragem de abandonar os braços
A ação é uma vanguarda imprevisível
Apressem suas veias, um hospício marchará
És capaz de sugerir um efeito a este
Hipismo corroído pelo orgulho?
Cada mácula que retorna a esta terra
Tem um dono, um general e um lobby
A trindade que erguerá pátria
Espalhará franquias de seu heroísmo fútil
Escreverão um cartório em lacunas
Preencherão danças com serpentinas
Entre uma burocracia que fascina e angustia
Babel, minha querida foste tudo entre Adônis e serpentes
Gira o limo desse teu nome
Estado ardil de toda iconografia
Vigiam as vaidades do mundo
Com um ar paranoico de descoberta
Levaram teus braços, lavaram teus olhos
Levaram teu tapa-sexo, levaram a inocência
Levaram o interesse, levaram a arcada dentária
Levaram suas repartições, desfraldaram seus altares
Desenho de Ariyoshi Kondo.