Do nosso editor Leopoldo Cavalcante (@littlepoldo):
“Ferreira Gullar em tempos de reclusão no interior nordestino.
Ready-made ilegível sobre a primeira parte de Poema Sujo, todo em azul (teu cu)”.
em negrito na imagem:
azul teu cu
a esta hora do anoitecer
misturando feijão com farinha
não sei de que tecido é feita minha carne
o país entre fulgor e lepra
e esta mulher a tossir dentro de casa!
(como se aquilo fosse a essência da casa)
e da lama
da água dos esgotos
cresciam
cresciam
os fascistas os nazistas
por cima da nossa casa
minha cidade azul
salve salve
mundo sem voz
meu corpo feito de carne e de osso
e o sangue que faz a carne e o pensamento
indecifráveis como símbolos do corpo
meu sangue feito de gases
meu corpo feito de água
toda essa massa de hidrogênio
que se para de funcionar provoca um grave acontecimento na família
insondável incompreendido
meu corpo nordestino
pulsando
meu coração de menino
Leopoldo Cavalcante nasceu em Fortaleza, Ceará. É editor da revista Aboio. Foi colunista de cultura no jornal Focus. Escreve sem compromisso no @resenhador_, Instagram literário – ou diário irregular de leituras.