Gabriela Ribeiro atualmente vive em São Paulo e cursa o bacharelado em Letras (Espanhol/Português) na Universidade de São Paulo. Pela Editora Primata, publicou a plaquete o amor é o fim do cerco (2021), além de publicação na revista digital Sucuru, no projeto de poesia Totem&Pagu e na edição digital da RevistaRia #16. Também colabora no projeto de publicações independentes Vítimas da Op Art Edições, idealizado por Sandro Garcia.
existem ainda muitas coisas
que não sei sobre você
e, um dia,
juntos a um muro
em algum lugar
na cidade
eu, bebericando
uma coisa qualquer
num copo de plástico
você escrevia nuvens, à lápis,
em folhas azuis
o amor passava em silêncioㅤ em segredo
pelo viaduto
como em sonhos
onde precisamos
descobrir os
significados
as formas escondidas
entre seus dedos e
as nuvens que já
mudavam de altura &
de cores,
no alto deste céu
no alto desse amor
incerto e oculto.
vejo com olhos lúcidos
você movendo as mãos
nos meus cabelos em cachos
as minhas mãos
dormindo e escrevendo
na chuva,
essa que desenha algum
vestígio em flor
nas paredes antigas
no muro de sonhos
que podemos ver por
detrás da tua janela –
a tua cor sempre foi a
mais viva
porque nos meus caminhos
aprendi a escrever
primeiro o teu nome
o vibrato
das nossas vozes juntas
as fatias de textos
que entregamos
um ao outro,
em silêncio –
pequenos trechos
escritos de cartas desenhadas
por debaixo das
frestas das
portas –
no silêncio da
nossa noite,
as portas inteiras
do nosso tempo e
com as letras
cravadas dos
nossos nomes.
love no more
ㅤ ㅤ ㅤ
ninguém repara quando
coloco os cabelos
atrás das orelhas
tudo o que ouço
são meus passos
em botas
pelo chão
os ruídos
farfalhar de gentes
no metrô
a estação de trem
a multidão
enrolo as minhas mãos
num lenço
apertadas
ninguém
sabe quem sou eu e
para onde irei
tudo o que ouço
é o meu nome e
o seu
por trás do
nosso muro.
cortando o
anhangabaú
em roupas de
gala
passeio os olhos
nas gentes
os cabelos caindo
por cima da gola
de vários azuis.
te esqueço e
te lembro
como num registro
mágico
não vejo o crescimento dos
teus cabelos ou
dos meus
passo pelas
linhas recortando
ㅤ cidades
num sábado
à noite
ㅤ ㅤ ㅤ
te procuro.
Foto de Luísa Machado.