Victória Monteiro (1996) nasceu em Arujá (SP) e atualmente vive na capital do estado. Formou-se em Letras pela Universidade de São Paulo, é tradutora editorial e professora de francês. Autora de De que se veste a nudez (Patuá, 2017) e Entre o signo e este homem (Penalux, 2023), também já teve poemas publicados em mídias eletrônicas e físicas, como Ruído Manifesto, Mural da Kotter e O Casulo – Jornal de Poesia Contemporânea.
1.
é tempo de alargar as narinas,
incarnar o boi na arena,
dizer não e morrer
então algum tipo de palavra
perdurará
pois há maneiras de negar a morte
e maneiras de destruir
há amores que começam pelo fim
e guerras que existem só porque
outras foram adiadas.
2.
pois disseram que a bomba é como a brisa
e quisemos provar da brisa, deitar na grama,
saber que há estrelas
a grama era nossa resposta,
mas nossa pergunta
era exigência da vida
não era preciso acreditar no bem,
não era preciso acreditar
continuamos em pé
pois havia estrelas.
3.
tudo conceber onde navegam
canoas furadas e brilham
astros moribundos,
pintar à custa das mãos,
prolongar este atropelamento
e não dizer a palavra do único,
nada saber nas palavras
mas escrever a metáfora maior
que nenhuma língua traduz,
que deseja onde tudo jaz.
Fotografia: Fortaleza de Santa Cruz – Marc Ferrez (Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).