Convidamos três poetas para escreverem inspiradas em quadros da artista plástica Paula Siebra.
Aceitaram o convite as poetas Ivana de Lima Fontes, Laís Araruna de Aquino e Pâmela Filipini.
VOLTAR-SE PARA SI MESMO
Pâmela Filipini
Voltar-se para si mesmo.
Dar-se em Ternura aos fluentes de espírito
e rebanhar a Solidão que cresce montanhosa
no interior das árvores.
Dar de comer ao Tempo.
Sonhar a Velhice sem infestar o Silêncio.
Dar de comer aos povos de cada Artéria.
Fechar-se em Semente.
Criar medula na possibilidade de Fruto.
Colher-se no fim da vida que é,
irrevogavelmente, agora.
É nisto que me alegro
― sem nenhuma misericórdia:
a feia e magra sensação do infinito.
Um olhar às estrelas e se saber tudo o que há
não sabendo de coisa alguma senão a coisa
feita do que sonhamos.
P.F. FILIPINI nasceu em Rolim de Moura, Rondônia, em 1994. Formada em Pedagogia, atualmente dedica-se exclusivamente à escrita. Cultiva solidão e se planta ao silêncio para sobreviver, eis sua costura de compreensão. Escreve. E nas horas vagas, existe: esta é toda sua substância. Vive através de uma timidez que lhe parece inerente, e é por isso que escreve: para ordenar cernes, e tentar penetrar à realidade que sua conjuntura tanto dificulta. A condição humana é o pilar de seus escritos evidenciando que, além da habilidade com as palavras, inegavelmente, é a palavra que, habilidosamente, concretiza a feitura da escritora. Publicou os livros FOLHAS DOS OSSOS ou o tratado das coisas insignificantes (Patuá, 2017), e Ensaio sobre a Geografia dos Cernes (Temas Originais, Portugal, 2017).
Paula Siebra nasceu em Fortaleza, Ceará. Em 2016, muda-se para o Rio de Janeiro para estudar Pintura na UFRJ. A artista tem como enfoque imagens relacionadas ao cotidiano, à intimidade e ao imaginário nordestino. Começa a expor em 2017, numa coletiva no Museu Nacional de Belas-Artes. Desde então, participa de diversas outras exposições em instituições como Centro Cultural dos Correios e Centro Cultural da Light.Seu trabalho tem origem na exploração de temas já consagrados na Pintura, como retratos, paisagens e naturezas-mortas, que ao longo do tempo vão ganhando um caráter formal peculiar: há uma simplificação no desenho da forma e uma redução no contraste entre os tons cromáticos que estabelecem polarizações entre realidade e sonho, como um devaneio sobre o cotidiano.