Diogo Mizael nasceu em São Paulo/SP em 1982. Estudou Biblioteconomia e é poeta poeta, não faz nada além disso. Publicou o livro “A andar pelas calçadas do inútil” (Virtual Books, 2009, edição do autor), participou das publicações “antilogia – 2011”, “revista misnomer – 2012”, tem poemas publicados na revista cheia e revista torquato, entre outras revistas literárias. Publica seus poemas no blog zenozine.blogspot.com/.
&
o consultório
do dentista
fica no caminho
do mercado –
o sol compassivo
nega a queimar
minha pele
como a de um saco
plástico jogado
na calçada
&
mangueira
esticada
no quintal –
uma borboleta
branca pousa
na rosca
da torneira
vazando
&
deixa que eu seja
a pasta de dente
que tapa os buracos
dos pregos que você
bateu para pendurar
os quadros de john
& yoko a pasta de dente
ao invés da massa
a malandragem
da lixa de parede do pó
deixa que eu seja
o marfim da tinta a cor
que está no contrato
que tem que pintar
antes de entregar
a casa de bandeja
&
estou a cinco minutos
da igreja uma escada
de cimento me conduz
por pinos amassados
de cocaína e panfletos
molhados de vereadores
conservadores tudo isso
a cinco minutos da igreja
&
uma antífona
sem lírica
gregoriana ainda
em tom
salmódico
acima
uma azia
queimando
o estômago
procurando
a saída antes
da benção final
Foto de Luísa Machado.