Mauro Paz é mestrando em Teoria Literária (PUCRS), roteirista e autor dos livros Por Razões Desconhecidas (IELRS), finalista do Prêmio SESC de 2012; São Paulo – CidadExpressa (Patuá); e do romance Entre Lembrar e Esquecer (Patuá), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2018. Recentemente, organizou as antologias Contos de Quarentena 1 e 2.
PLANALTO
Ao pular da nau,
em São Vicente,
o condenado João Ramalho
ganhou a nova chance
de Adão.
Subiu o planalto.
Desposou Bartira.
Foi pai mestiço.
E renasceu Piratininga,
filho de Tibiriçá.
Na cruz de Anchieta,
reencontrou o pecado.
Desde então,
tudo queima
por aqui.
POEMINHA BRASILEIRO
É tanto céu, tanto mar
Tanto barquinho que vai
Tanto barquinho que volta
Tanta chibata que estala
Neste porto em que somamos
Mais de duzentos milhões
quase todos pretos
Dando porrada na nuca
de malandros pretos
De ladrões mulatos
e outros quase brancos
Tratados como pretos
Todos ligados
na mesma emoção
Pra frente, vamos
Todos juntos, vamos
Despachar, só nesse ano,
mais 600 mil irmãos
SOBRE O MEDO E OUTRAS ASSIMETRIAS
Quem tem
medo
do Paulo?
Que horror é esse
a um professor
delgado
centenário
que nem
respira mais
entre nós?
Quem teme
Paulo
não aprendeu
o alfabeto
do tijolo,
panela cheia
não cavoca
o chão com
a enxada
Nem sabe
o cheiro
que nosso trabalho tem
Quem teme
o Paulo
acredite
também teme
a rua
o mato
o tambor
a moça
que dança
só
E treme
só de lembrar
que o sol
acorda
para todos.
Foto de Luísa Machado.