roteiro de pequenas frustrações
i.
sonho com uma escada rolante
em que eu estou sempre tentando voltar para o lado que saí.
ii.
– não posso viver sem você.
– (mas quem é você?)
iii.
um cavalo selvagem passa correndo em frente à porta da minha casa.
iv.
abriu o bombom.
dentro uma concha.
v.
equilibrando um carro em um corrimão sobre um lago cheio de jacarés.
vi.
a bruxa que me dobra e me bate no liquidificador.
vii.
uma música muito triste que quebra o peito feito uma pedra jogada no espelho.
viii.
um copo d’água na beira da cama como companhia.
ix.
um grande sertão em que diadorim sou eu.
x.
carrego comigo uma chave que abre nenhuma porta.
sugestão
aqui, é muito importante não falar sobre problemas:
deve-se viver à deriva, não colecionar passagens
todo e qualquer problema deve ser levado a um baú
e ali depositado. depois disso, deve-se abrir a terra e enter-
rá-lo.
fica como sugestão da casa o uso de cola tenaz para consertar
demais estragos. o protocolo prevê que se cole tudo que aceite
ser colado.
siguiéndole
desejo mudarme para argentina
pois sei que lá
toda a gente toma mate
e, embora eu não tome mate,
sinto que preciso adquirir um novo hábito
marina rima é poeta e pesquisadora. escreveu vênus partida ao meio (patuá, 2017), estaca zero & outros desvios de percurso (urutau, 2018) e toda janela é algum tipo de saída (penalux, 2019).
