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Ser admirada, jamais amada

por Pâmela Filipini
Fotografia: Rochas na Avenida Niemeyer – Autoria não identificada (Acervo Instituto Moreira Salles).

Pâmela Filipini nasceu em Rolim de Moura, interior de Rondônia, 1994. Publicou 3 livros: Folhas dos ossos ou o tratado das coisas insignificantes (Editora Patuá, SP, 2017); Ensaio sobre a Geografia dos Cernes (Portugal/São Paulo, 2017/2018); Pôr a Prumo o Tempo (Temática Editora, Porto Velho, 2019). Também lançou quase uma dezena de álbuns com composições voltadas à Música Clássica.


SER ADMIRADA, JAMAIS AMADA

Ser admirada, jamais tocada
― como um vaso de flores vazio
ilustrando a pouca pertença.
Ser lida, jamais beijada
― como uma Ártemis:
interessante e, no entanto, perigosa.
Ser amiga, jamais pensada
― como matéria além-amizade.
Raiz nula, o fruto devorado em silêncio.
Ser invariavelmente a Mulher
Solitária que mora somente no aceno,
no conselho, na sabedoria fundada
no coração do exílio interior.
Ser ainda mais admirada, como se não
existisse um corpo, como se não
existisse braços e afeto, como se não
existisse uma Mulher Real com costas
sofridas e mãos prontas para amar,
como se a Poesia fizesse dela
uma igreja em chamas na qual todas
as pessoas já estão condenadas.
Ela, o espécime feminino que não pode
ser amado nem queimado.
Ela, fadada à morte sem ao menos
poder morrer.

Ser admirada, jamais amada.
Esta é toda Maldição.


TENS O CAMPO

Tens o campo, o rebanho, as águas.
Tens o leite, o fermento, o trigo.
Tens o pão e o silêncio.
Tens o rumorejo entre a brisa
e a sombra que faz teu sofrimento
                    folgar-lhe o estômago
terminando-se com olhos
                              em azul e fome.
Tens nas mãos funções que não
                               cabem às mãos.
Estes gestos te possuem.
Tu amas.
As mulheres estão salvas
em teu tapume.

Meditei sobre estas coisas quando
ainda não havia eu a meditar sobre
estas coisas, quando não havia tu
a meditar sobre mim.
E agora, neste Tempo Irrequieto
de Interior, meditamos uma à outra
secretamente para que ninguém
invada a pequena revisão que a
Vida nos cumpre quando ao olhar
as Estrelas fazemos o Amor Invisível
somente disponível aos Seres Livres.  

Olhes como o acontecimento
               ainda não te terminou.

Tens a sorte de tocar em coisas
que só posso imaginar.


Fotografia: Rochas na Avenida Niemeyer – Autoria não identificada (Acervo Instituto Moreira Salles).

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