zeno nasceu em 1999 em fortaleza. possui graduação em letras pela universidade federal do ceará. é mestrando em semiótica e linguística geral pela universidade de são paulo. confabula ficções e outros bichos.
natureza morta
as abelhas pressentem
aroma de candura
e pousam inadvertidas
na pia cítrica
à espera de
limão laranja tangerina
mas a higiene
multiuso da pedra é
ominosamente
ocidental
e elas morrem
de desgosto
abutre do novo mundo
um urubu baila
baixo sobre o aço
indigesto arranha-céu
arreda da raia
com cerol atropela
uma – nuvem?
o bico adunco
rasga o plástico
o vidro da torre
comercial
não
penas
pra todo lado
bumbam os bois
os bois não comem pasto
deliberam
hoje não
comem queimada
gramínea biomassa
incendiada não
comem hoje não
comem a rebrota
tenra a forragem
e não pasmam gado
ficam antes fúnebres
famélicos quem
sabe mesmo graves
espantosamente
graves até
sinistros mas não
comem lucrativos
pasto não comem
hoje bem passado
terreno limpo
torrado não comem
hoje morrem
caem em manada
esvaziados de tripa
e miolo humano
bumba no solo
a ossada e o couro
branco milhões
de cabeças
tombam no bioma
prejuízam pois
não comem
deliberam
hoje não comem
contemplam os homens
ruminados e murcham
em chamas
pelo pantanal