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prólogo

por Lívia Aguiar
Desenho de Ariyoshi Kondo ilustra os poemas de Lívia Aguiar.

Lívia Aguiar é escritora, performer e jornalista, aventura-se pela poesia, prosa, palavra falada, produção gráfica, dança, colagens e +. Seu 1º livro é Histórias do Tempo do Amém (Quintal, 2021; 2ª ed. Numa, 2022). Já publicou 18 zines autorais, entre elas entre calçadas (2023), Sorte de Principiante (2022, a partir de videoperformance) e Siricotico (2019), além de poemas e contos em coletâneas e revistas. Apresenta-se em espaços de performance poética e audiovisual. É co-autora do podcast literário Respiro e publica, desde 2021, a newsletter à toa pelo mundo, histórias de viagem em prosa, poesia, colagem, desenho e podcast.


the bluetooth device
is ready to Paris
demorei a entender
o que ela fala
com forte sotaque cantonês
uma caixa de som baratinha
azul-turquesa
baixo prazo de validade
pronta pra parir
imagino o momento na fábrica
            chama aí alguém que fala inglês
            pra gravar o liga-desliga
que falta que faz um compositor nessa hora
podia ser um simples som
engenhosamente criado
um bip luz verde pronto
mas the bluetooth device is connected successfully


buzina e vai

é preciso ser mágico
pra dirigir em Mumbai
onde os carros rickshaws motocicletas
charretes e pessoas se deslocam
por acumulação
fila indiana
não existe na Índia
é invenção indígena pindorâmica
caminhar sobre as pegadas de outro
para interferir o mínimo no ambiente
na Índia
a tendência é sempre
a saturação máxima
you have to be a magician
to drive in New Delhi too


senhora?

alô é Aldísia quem é?
estou na estrada chegando
em Pavão mas pode falar
já liguei e já resolvi tudo
não vou pagar nada
já tá tudo resolvido vou pagar é só é
cento e sessenta reais
quando chegar a conta em casa
minha filha pagou tudo
foi o rapaz lá o técnico
é que bagunçou tudo
a próxima fatura vai ser
é cento e sessenta já foi
combinado e eu não tenho
nada a informar a você
porque minha filha já resolveu
me falaram pra não atender
ninguém nem você tá tudo certo
oi? boa noite
não quero nada nada nada
depois eu vou até mexer com a justiça


viagem aérea

tomam a garrafa d’água
o queijo o shampoo
a tesourinha de unha
fazem tirar as botas o cinto
as chaves de casa o celular
abrir a mochila do computador
obrigam a chegar duas horas antes
para que tenham tempo
de sobra pra se atrasar

organizam filas
fila pro check-in
fila do controle de segurança
fila pro embarque
fila do ônibus
fila na escada e finalmente zarpar
fila pra desembarcar
fila pra pedir um voucher de café
e salgado simples que é um direito seu
conseguido com muita fúria
não precisa de fila
desejam a fila
passageiros alinhados como bois
esperando a vacina de febre aftosa
mudam o portão
pro outro lado do aeroporto
e quem corre mais vence a
fila do overbooking
atrasam cancelam
e você que se foda
com fome sono pressa

você que se foda


quando digo Rio imagino Mar

fofa larga branca crocante
ainda se lembra me lembra:
areia é mistura de restos
      conchas corais rochas cristais
plástico vidro cocôs de espécies diversas
    pedaços desgarrados da cidade
      moídos até as últimas consequências

no fim da tarde todos olhos miram o oeste
maravilhados                    aterrorizados
uma multidão aplaude em 35 idiomas
enquanto 35 ônibus ardem com gente dentro
                                   depois do quebra-Mar
                       o Rio até parece inofensivo
então passa o caminhão da comlurb
decretando o começo
do fim do domingo


Desenho de Ariyoshi Kondo.

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