por agora sou inverno
que quer durar e não dura
descrido pelo tempo
e rimado
com o osso atado à alma dura
e se acharem que ouvem uma música
que ao redor mais ninguém ouve
é só o meu estado
é tudo que houve
um sopro sempre em fuga
qualquer palavra move as ondas
se esperas da praia
se esperas do mar
quando vaga a luz sob as águas
o efeito que balança
é o medo de amar
temos o humor pra que se ria
do que ameaçando se debate − bicho
que a coleira não conquista
se por alvo o toma a alegria
seu fugir de casa é voltar ao abrigo
− a dor menor é perder a mordida
mas parece utópico ser o riso
quando o possuímos por morfina
e a dor maior por desperdício
há grandes epopeias a serem feitas
sobre os heróis da modernidade
enquanto os meninos que empinam pipas
⠀⠀⠀⠀⠀empinam pipas
as suas
as novas
as derrubadas
meu coração animatrônico
que nunca aprendeu a pulsar
só finge que sabe viver
a mais de um metro do solo
e na frieza de um súbito abraço
mapeia sua fraqueza fatal
“minha memória suporta o mundo
e um abraço é tão curto afinal”
pobre orfeu
caluniado
nasceu mito
à teoria
lembre-se de todos
os achados
(a luz é sobre
o que revela)
poesia é a meta
de toda a física
não pense em mim
não me evoque
todo tempo é
tempo suficiente
toda eternidade é
metade da lembrança
quando adentrares
no covil do sentimento
ao acordar do dever
da vida
não pense em mim
falha e rude
há proveito no impossível
e no final
quem colherá estas rosas?
quem lapidará esta rocha
e cortará esta grama?
algum deus espalhará sua fantasia
em alguma terra desmembrada?
mas um belo dia já dirá seu paraíso
só um belo dia
para os olhos de ninguém
Daniel Cosme nasceu no dia mundial da poesia (21 de março de 2000) e é estudante do curso de Letras Português, na UFPE de Recife. Há alguns anos vem se dedicando às áreas de teoria e criação literária, o que o amadureceu como escritor.