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hora do café

por André Luiz
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Entre os goles de cerveja e as cinzas do cigarro, há tudo que podia ter sido e não foi. Hoje eu acordei e não quis levantar. Assim são os meus dias. Sou breve na memória dos outros.

Encho a caneca com café e bebo e queimo a língua. A dor é passageira, o amargor não. Ouço os passos leves no piso de taco e sinto o perfume e vejo a camiseta jogada no sofá. O café ainda está quente e você quer um gole. Um sopro de vento entra pela janela da cozinha e me deixa arrepiado. Nos olhamos e nos tocamos e nos calamos. “O que houve comigo?”, penso. Quando eu não tinha esse olhar lacrimoso, a escrita era mais simples e leve e eu pensava que era possível mudar o mundo. Gritei de agonia e bebi o café e não entendi o porquê de carregar tanta tristeza no meu peito. Acendi um cigarro.

Vejo o passado pelo reflexo do espelho. O livro que li e o violão que toquei e a crônica que escrevi na noite passada. A viagem a Portugal e a amizade com o dono da padaria. A ponte era de ferro e ficava entre duas colinas. O vento era forte e gelado e eu andava a passos largos com o cigarro no canto da boca e com o cabelo bagunçado. Meu casaco de couro estragou. Apesar disso tudo, eu consegui cruzar. Mas isso foi há muito tempo. Hoje em dia o caminho é diferente. É estreito e me faz pensar nas escolhas que fiz. Eu ainda sou bem moço, mas há tanta tristeza. Há um conjunto indecifrável de coisas que me tiram o sono e essa angústia aguda só cresce com o tempo. Fui tomado pelo desânimo.

Tento enxergar por meio dessa nuvem de fumaça, mas não consigo. Ela é densa e sombria e me faz pensar em desistir. Sirvo mais café. São sete da manhã e ainda não estamos prontos e já nos sentimos exaustos. Não escapamos da futilidade e das distrações e dessa estúpida busca pela estabilidade. “Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha”, penso como você, Fernando. Sentado à mesa, acompanhado pela caneca de café, olho em direção à janela e vejo mais um dia que se passou.

A corda do violão estourou e eu não escrevo como antes. As linhas não se formam e os acordes não emitem sons e todo o tormento se esconde. Não há mais sentido em nada. Meus cigarros acabaram. A esperança me escapa pelos dedos e isso me corrói mais que a cerveja da noite passada. Me embriaguei de vida e ao final dessa bebedeira não ganhei nada. Querendo ou não, o copo esvazia e a conta chega. Nos levantamos para pagá-la. Nunca sabemos o quão alto será esse valor.


André Luiz é estudante de relações públicas na Faculdade Cásper Líbero. Gosta de música, filmes e é aspirante a escritor. Desistiu da terapia depois de duas sessões por excesso de emoção.

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