SOBRE
Augusto Baldemar é um advogado trabalhista cujo cotidiano é preenchido pelos dramas de seus clientes — suas lutas, injustiças e anseios por reparação. Quando uma causa envolvendo sua mãe falecida chega às suas mãos, Augusto é forçado a confrontar a única narrativa que sempre evitou: a história de sua própria família.
No romance de estreia de Daniel Longhi, a narrativa navega por diferentes décadas da história brasileira, apresentando personagens migrantes que carregam o peso de suas origens em um país em constante transformação. À medida que Augusto desvenda segredos familiares há muito enterrados, emerge uma questão central: se traumas podem ecoar através das gerações, o que é preciso para romper esse ciclo?
Uma obra sobre memória, identidade e redenção, que nos lembra que às vezes é preciso enfrentar o passado para reescrever o futuro.
Daniel Longhi
Nascido em São Paulo, Daniel Longhi mudou-se ainda criança para Recife, onde foi criado. É advogado, servidor público federal e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Chicago. A violência gentil (Cachalote, 2024) é seu primeiro romance.
Trecho
Sentou-se na poltrona do quarto. Manteve a televisão desligada. Deixou o uísque passear pelo corpo, percorrer o caminho todo, pregando palavras de motivação aos átomos que tocava. Seu corpo semiaceso, fogo-fátuo. Um homem cortou a noite com um grito de raiva, de triunfo, de ambos. Mas era a raiva e o triunfo de outra casa, e tanto faria ser de outro mundo. Augusto estava naquele quarto, ele mal estava naquele quarto. Sentia-se descolado daquela poltrona, da televisão apagada, do quarto cujas paredes adivinhava no escuro. Descolado da própria pele. Deslizava, quase mesmo escapulia, para um mundo amarelo, oxidado, onde ele tem cabelo e abraça os mortos. Augusto, sua mãe, seu irmão, vivendo abraçados e amarelados na gaveta de Dagmar. Quantos mortos cabem numa gaveta?
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