SOBRE
“Eu nunca escrevi diários! Isto aqui é um extravasamento, um inventário estilhaçado, sem datas fixas no calendário, sem horários demarcados — guiado por Kairós”. Assim escreve no preâmbulo a autora de cacos retidos na margem, nomeando Kairós como preceptor de sua jornada entre a prosa e a poesia e, nesse simples ato, recusando a medida, a exatidão e a linearidade.
O tempo da palavra de Adriane Figueira é o do extravasamento. Os textos desse livro são desenhos sutis, quase oníricos, de um labirinto de memórias e vertigens que, solitário e vigilante, assoma como possibilidade de um contágio verbal que desoculta as tempestades da nossa experiência.
ADRIANE FIGUEIRA
Adriane Figueira nasceu em 1987 no interior do Pará. Vive na capital paulista. Participou de algumas antologias e é autora de Revoada do dragão (Patuá, 2021) e Voragem (Folheando, 2022).
TRECHO
Górgona
Flechas, fendas e fios. Serpentes sibilantes sorriem através do espelho tripartido, rastejam e se enrolam formando uma coroa, suas escamas furta-cor se misturam num gesto multicolorido que cega e deslumbra o olhar, mas não o petrifica. A pedra que rola montanha abaixo pertence a outra história. Aqui eu rastejo pelo labirinto e encontro a saída.
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