SOBRE
“Uma cidade situada à beira de uma floresta parece ser o lar de um monstro perigoso. Some um menino. A cidade se mobiliza em uma caçada que transforma a vida dos habitantes.” O enredo, simples em seu argumento, é engenhoso na confecção narrativa.
Henrique Lederman Barreto opera com binômio caça-caçador, constantemente invertendo polos, para compor uma alegoria política e policialesca a partir dos passos de uma narradora que cresce em meio aos acontecimentos tenebrosos. A linguagem, ora mais direta, ora mais poética, sempre provocativa, esconde e deflagra as inspirações do autor.
Em O bicho, perseguição, violência e hostilidade são facetas de uma monstruosidade histórica em uma sociedade que, real ou imaginada, desafia a sanidade de seus integrantes.
HENRIQUE LEDERMAN BARRETO
Henrique Lederman Barreto nasceu em 1985, publicou o romance A Horta (Editora Incompleta, 2020). Vive em São Paulo.
TRECHO
Invoco o monstro dentro de mim e ele caminha no escuro, até aparecer sob um foco de luz, que luz? Vejo seu sorriso, o mesmo fragmento que reflete diferente nas poças reflexivas de cada um. As milhares de salas do monstro, as cidades do seu reino, suas casas. Penso num caleidoscópio de sorrisos, dentes, escamas, garras. Nosso pesadelo comunitário. E ainda que ninguém ou muito poucos percebessem esse espectro, que cobria a cidade de nuvens, mesmo que todos seguissem distraídos em seus afazeres, distraídos das nuvens cada vez mais densas, da chuva que pode cair de uma vez, eu sabia.
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