SOBRE
Nas palavras de Priscila Branco, que assina o prefácio do novo livro de Milena Martins Moura, “[em] O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, o único milagre possível é o ato poético […]: ‘Eu estou escrevendo / Isso é um milagre’”
Exercício de subversão, Milena Martins Moura faz o cordeiro – símbolo da castidade – sentar à mesa com os pecados. E gozar da companhia um do outro, “de corpo inteiro no indevido”.
Para a professora Paula Glenadel da Universidade Federal Fluminense (UFF), Milena “assume para si uma voz incomum entre sua geração”, tratando de temas bíblicos, ou dos “mistérios gregos”.
Neste O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, a opressão é esmagada e as palavras são desnudadas sem culpa, como aponta Anna Clara de Vitto na orelha.
A Eva de Milena é “serpente e desfrute” e vai “lambendo o caminho desviado”, dando atos de sujeito à primeira mulher. Em certo momento, Eva afirma: “estou nua e disso não me envergonho”.
AUTORA
Milena Martins Moura é poeta, editora e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (Multifoco, 2011), Os Oráculos dos meus Óculos (Multifoco, 2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021), bem como da plaquete Banquete dos Séculos (edição da autora, 2021). É editora da revista cassandra, de seu selo erótico Héstia e da Macabéa Edições. É mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Também integra a equipe de poetas do portal Fazia Poesia e é colunista da revista Tamarina. Tem poemas e contos em portais e revistas como Jornal RelevO, Uso, Torquato, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Lavoura, Zine Marítimas, Laudelinas, La Loba, Mormaço, Caliban, Desvario, toró, Arara, Kuruma’tá, Aboio, Arribação, Totem Pagu, Granuja (México) e Kametsa (Peru). O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão (2023) é seu primeiro livro pela Aboio.
TRECHO
Eu sou tão frágil nesse fogo breve
De criatura apenas nascida
Para ver finais
Milhões os passos cada qual mais próximo
Do nunca dado
Uma folha sobre a mesa
Em branco
E o negrume
Engolindo os telhados
Eu estou escrevendo
Isso é um milagre
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