SOBRE
O desaparecimento dos objetos do apartamento de uma mulher, uma chuva misteriosa sobre um cemitério à beira da privatização, uma descoberta tardia em um orfanato de meninas, a luta pela sobrevivência de uma nova espécie, uma partida de dominó em Araraquara, o segredo de um casal de búfalos, os dias de um dragão na praça de uma pequena cidade, o testemunho de um anão de jardim, as relações entre divórcio, dentes e autoritarismo.
Esse apanhado serve como um desenho do caminho trilhado pelo novo livro de contos de André Balbo. Como escreve Cristhiano Aguiar na orelha, Sem os dentes da frente segue uma tradição insólita latino-americana, ficando, no campo das referências, entre um Julio Cortázar e uma Mariana Enriquez.
“A unidade do livro repousa na utilização da ideia de ausência (e a falta de dentes é apenas uma delas) como elo articulador dos contos. Os contos de Balbo nos enredam, a partir do título, a fim de que sempre especulemos sobre qual ausência – e, talvez, de qual signo dentário – será abordada na história seguinte”, arremata Aguiar.
Sem os dentes da frente passou pela leitura crítica de Cristhiano Aguiar (Prêmio Biblioteca Nacional 2022), Carol Rodrigues (Prêmio Jabuti e Prêmio Biblioteca Nacional, 2015) e Tamy Ghannam (crítica literária).
AUTOR
André Balbo nasceu em 1991. É contista, tradutor e produtor cultural. Editor-chefe e fundador da Cachalote, selo de literatura brasileira do Grupo Aboio, e coordenador editorial da Abeto, selo de não-ficção com foco em ciências humanas e sociais. Publicou os livros de contos Sem os dentes da frente (Aboio, 2023) e Agora posso acreditar em unicórnios (Reformatório, 2021). Traduziu, entre outros, o romance Agostino, do escritor italiano Alberto Moravia, que será publicado pela Aboio.
TRECHO
Os últimos itens a fugirem do apartamento, numa mesma manhã, foram a maçaneta da porta de entrada, o espelho na parede sem pia e duas fatias de pão bolorento. Pouco se importava: não pretendia sair nem receber ninguém, muito menos fazia questão de comer e encarar os hematomas espontâneos do próprio rosto. No máximo, de tempos em tempos, quando se deixava entregar a um instante de inquietude, tocava os dentes da frente, provando se ainda estavam ali.
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