SOBRE
Um recado escrito na página de um livro antigo, uma cabeça que surge no manguezal, as águas do rio tomando a cidade numa inundação. O que antes parecia certo se torna dúvida de repente, a solidez da rocha dando lugar a uma fugacidade brumosa através das brechas pelas quais o fantástico se aninha na normalidade.
Misturando Júlio Cortázar e Silvina Ocampo às histórias fantásticas de Manaus, onde cresceu, Matheus Picanço Nunes explora os surrealismos cotidianos ao longo 14 contos num processo ininterrupto de sublimação. Sereia de mármore e névoa é uma quimera composta pelas histórias de sua juventude, suas influências literárias mais contemporâneas e toda a estranheza possível.
Matheus Picanço Nunes
Matheus Picanço Nunes é escritor, professor e pesquisador. Nasceu em Manaus, em 1995, mas reside em Fortaleza desde 2011. Como contista, busca explorar as diversas formas do insólito. Em sua jornada literária, publicou contos em diferentes suplementos e revistas. Sereia de mármore e névoa é seu livro de estreia.
Trecho
Às vezes, a pergunta é outra: quando você chegou? E eu digo, entre risos, que pode ter sido ontem, mas também há um mês. Não me surpreenderia, às vezes penso, se fossem anos. É difícil lembrar, a bem da verdade, dos momentos que não tenham sido esses: acordar todas as manhãs no quarto miúdo, em que cabem a cama de casal, o armário pequeno, o frigobar e o ar-condicionado que liga ao seu bel prazer; curvar-me sob o teto do banheiro, baixo como o de todos os hotéis dos anos 40; encarar o horizonte pálido lá fora, debruçado sobre a janela por horas a fio. Todos os dias penso o mesmo: hoje desfaço as malas. Mas por que as desfaria? Depois é preciso arrumá-las. É sempre preciso arrumá-las de novo.
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