SOBRE
“Violência faz parte”, reza um dos personagens que transitam entre os contos de Um dia de domingo. Quando dizemos que algo “faz parte”, nos mais diferentes contextos, em regra está implícita a expressão “infelizmente”. Na prosa retesa de Gabriel Cruz Lima, a expressão “fazer parte” reinaugura o olhar: há coisas que fazem parte, há violências e sujeiras que compõem a vida, e nessa integração está também a possibilidade de ternura, felizmente.
Operando num registro entre a acidez das imagens e o balanço oral da linguagem, os narradores de Gabriel Cruz Lima testemunham e performam as brutalidades que atravessam a experiência. Brincando com o riso da maldade e a selvageria do afeto, Um dia de domingo é todos os dias da semana vislumbrados no vórtice dos recomeços.
Gabriel Cruz Lima
Gabriel Cruz Lima nasceu em Mairiporã, em 1998. É autor da coletânea de contos O Último Romântico (Bar Editora, 2020). É pós-graduado em Escrita Criativa pelo Instituto Veracruz e Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Estuda Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Um Dia de Domingo (Aboio, 2024) é seu segundo livro de contos.
Trecho
(do conto “I. Chama seu pai”)
Eu via a espuma subir na máquina de lavar e pensava que aquilo tinha a ver comigo mijando na cama. A água saindo pelos furos do tambor molhava a cueca e o lençol sujos e eu sentia que o movimento de ensopar as roupas era o mesmo que minha bexiga tinha feito de madrugada.
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