Tóia Azevedo é artista visual e poeta. Nascida na Bahia, vive em São Paulo desde criança. É graduada em Artes Visuais no Instituto de Artes da UNESP e atualmente estuda Letras na Universidade de São Paulo. Sua pesquisa é centrada na investigação de arquétipos mitológicos, aspectos do feminino e no processo cíclico de vida-morte-renascimento. Tem como principais meios a fotografia e a escrita. É autora do livro de poesia Meninas loucas não vão para o céu (Quintal Edições, 2022). Também desenvolve trabalhos relativos a pesquisa, mediação, produção e curadoria de exposições.
possession (cena do metrô)
vazo
ovos:
casca e
cl
ar
a ge
m
a viscosa
ama
rela
da misturada
vazo le
i
te
também
branco
transparente agarrando
se
à parede concreto
ao chão
já molhado por sabe-se lá
antes
eu vazo
sangue de todas as extremidades
ouvidos
narinas
boca
vulva mistura
dos a casca
clara
gema
secreção láctea –
*
de onde vem
o acaso
da galinha
ou do ovo?
alimento-o
com leite inexistente
dos meus
seios
[…]
arfando
forçando e ofegando
só fui fiel ao
parir o mal
e feticidar
a fé
a santa levantou a saia
para Hilda H.
não te moves de ti
ela disse uma vez
nos garranchos pingando tinta
na porca que guincha
no sangue
vindo das entranhas
esco
rri
do
por entre as partes
sou parte casa
sou parte rua
parte me
em duas
a estranha concepção
pueril do mundo
eu entendo
estraga o sexo
traga o cigarro
vence a comida que ainda pode ser comida
come os cantos as bordas
as linhas
a trama intrincada a cobrir
essas saias
obviamente peroladas
obviamente pedindo para serem comidas
o ato de mastigar é um desafio
saia de ti por um instante
move terra morra
deus por entre os morros
os vales
as
depressões
coxas barriga peitos
a virgem que se aconchega entre suas pernas
o cerne vermelho
a toalha rendada bordada por beatas
(elas que se danem)
a porca ainda a guinchar
por saber
saber demais
Você acabou de ler uma seleção de poemas de Meninas loucas não vão para o céu, livro de estreia de Tóia Azevedo. Gostou dos poemas? Adquira-o completo clicando aqui!
Mais sobre a obra
Em Meninas loucas não vão para o céu, Tóia Azevedo evoca uma possibilidade outra que elenca a subjetividade do eu-lírico em suas múltiplas facetas, ainda que elas estejam em conflito. Trata-se de um processo de elaboração de uma identidade poética que assume a própria dor, sem romantiza-la – se as meninas loucas não vão para o céu, é preciso criar um lugar para elas. E, aqui, a própria menina louca busca construir esse lugar.
Foto de Anna Carolina Rizzon.
