Caco Ishak nasceu em 1981. Mestre em Comunicação (USP), doutorando em 2023, publicou quatro livros (outros quatro na gaveta), além de ter participado de uma dezena de coletâneas, no Brasil e no exterior. Seus textos foram traduzidos para o alemão, o espanhol e o inglês. Caco Ishak morreu em 2015, embora oficialmente em 2009. Assina in memoriam. Responde por Ricardo G. Ishak desde então. Pai de Ziyad e Zalu.
semear a terra com pedras
expelidas dos rins
num mijo interrompido
redescobrir a cólica
o paradeiro da cólica, os rastros
que nossas plumas deixaram no ar
e voltar a caminhar sobre a terra semeada
com o que nos foi afanado ou de bom grado entregue
sem questionamento nem pesar
pois um rim pode sempre ser reconstruído
sem nunca se perder do mijo que se interrompeu
incapaz de traduzir
u were right
and I left
bilíngue fez-se a fuga
tudo que o vento toca cai sozinho
e aduba o circo arqueológico
das próximas estações
camada superficial
radinhos de pilha
bolinhas de gude
rubiks, matrioskas
o rolo de um K7
teu retrato
rasgado
a posteridade
almoço e janta:
a posteridade de uma batata
doce bárbara gengibirra
raízes engrossam fora da vista
risco de estoque
ponta do mapa sem gume
cestos de peixes no cais
me chamam por outro nome:
ancoro
o mar quebra no queixo
esteriliza a pele
robalos em cascata a bombordo
inundam o convés, o barco inclina
me chamam por outro nome:
ancoro
norte
e so
para
onde a
busso
lá a
ponta
Ilustração: F. E. Clarke (1899).