Mabel nasceu no Rio de Janeiro no ano 2000. Cursa Letras na UFRJ, pesquisa e faz poesia. É viciada em oficinas de escrita.
cuca teta
ocupando fatia larga
do cérebro
esmagando raízes
quadradas
esses dois punhados
de gordura
no lugar certo
tinha peitos na cabeça
não do lado de fora
pendurados
do lado de dentro
quando corria
quando pulava
quando espelho
a pancada vinha
na mente
se parisse, pensava,
os neurônios manchados
de branco
trocariam mensagens
a serem mamadas
cabeça alguma
levava auréolas
pink como a sua
babalu
nada
onde não dá pé
os cabelos dançam
dentro da onda
chupa
chumaço
troca sal
por baba
pepê quer cheirar
à baba
deixa na bochecha
a saliva acumular
(ela tá gostando do rafa
o menino que cospe
no cabelo dela)
deixa escorrer
no queixo
secar nos cantinhos
esbranquiçar
ela não liga
passa o dia
fazendo bolhas
com a língua ondas
de quem pesquisa
tutoriais de beijo
batidas
guiga é a mestra da punheta
porque começou cedo
sabe o que é pra fazer
sabe o que machuca
sabe como ser g r a d u al
guiga acha a arte da punheta
prática
as texturas poucas
os tamanhos muitos
demora a entender circuncisão
só conhece os outros pelos
dedos pela palma da mão
em concha o dedão na cabeça
para aproveitar os sucos
deslizando até a púbis
guiga acha a prática da punheta
arte
gosta de ver os olhinhos
rolarem
indefesos
implorarem alguma coisa
guiga quer ser faixa rosa
aprimora a técnica a cada uma
é como desatarrachar uma garrafa
às vezes ameaça parar
para vingar
as vezes que passou
vontade é agressiva
a reação que recebe
então se ri e continua
bocejando
Fotografia: Rebanho de ovelhas – Vincenzo Pastore (Acervo Instituto Moreira Salles).