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Cuca teta

por Mabel
Fotografia: Rebanho de ovelhas – Vincenzo Pastore (Acervo Instituto Moreira Salles).

Mabel nasceu no Rio de Janeiro no ano 2000. Cursa Letras na UFRJ, pesquisa e faz poesia. É viciada em oficinas de escrita.


cuca teta

ocupando fatia larga
do cérebro
esmagando raízes
quadradas
esses dois punhados
de gordura
no lugar certo

tinha peitos na cabeça
não do lado de fora
pendurados
do lado de dentro

quando corria
quando pulava
quando espelho
a pancada vinha
na mente

se parisse, pensava,
os neurônios manchados
de branco
trocariam mensagens
a serem mamadas

cabeça alguma
levava auréolas
pink como a sua


babalu

nada
onde não dá pé
os cabelos dançam
dentro da onda

chupa
chumaço
troca sal
por baba

pepê quer cheirar
à baba
deixa na bochecha
a saliva acumular

(ela tá gostando do rafa
o menino que cospe
no cabelo dela)

deixa escorrer
no queixo
secar nos cantinhos
esbranquiçar

ela não liga
passa o dia
fazendo bolhas

com a língua ondas
de quem pesquisa
tutoriais de beijo


batidas

guiga é a mestra da punheta
porque começou cedo

sabe o que é pra fazer
sabe o que machuca
sabe como ser g r a d u al

guiga acha a arte da punheta
prática
as texturas poucas
os tamanhos muitos
demora a entender circuncisão

só conhece os outros pelos
dedos pela palma da mão
em concha o dedão na cabeça
para aproveitar os sucos
deslizando até a púbis

guiga acha a prática da punheta
arte
gosta de ver os olhinhos
rolarem
indefesos
implorarem alguma coisa

guiga quer ser faixa rosa
aprimora a técnica a cada uma
é como desatarrachar uma garrafa

às vezes ameaça parar
para vingar
as vezes que passou
vontade é agressiva
a reação que recebe
então se ri e continua
bocejando


Fotografia: Rebanho de ovelhas – Vincenzo Pastore (Acervo Instituto Moreira Salles).

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