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Paralelas de junho

por Guímel Bilac
Fotografia: Ilha de Boa Viagem – Marc Ferrez (Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).

Guímel Bilac nasceu em Brasília em 1976. É tecnólogo sênior por formação e poeta por acidente e questões de sobrevivência. Publicou diversos textos, entre poemas e crônicas, nos portais Fazia Poesia e Revista Mormaço.


paralelas de junho

o tempo de deus
e o nosso —
eu já te contei —
funciona assim:

deus está fora do tempo
e a gente dentro do tempo
a linha do tempo de deus não tem início e nem fim
a nossa tem, então
deus vê nosso tempo como uma rota
então,
quando a gente pergunta p’ra deus
quando uma coisa vai ser, ele não responde
quando
ele responde
onde

eu amo
pensar que deus projetou
o desenho que seu rosto faria
quando te nascesse um sorriso

eu amo
o desenho das covinhas que deus
desenhou no seu rosto
p’ra aparecer quando você
sorri

deus planejou me pescar

desde aquela tarde

na faixa de pedestres
da 410 sul
você é a cena mais bonita
da semana

quando o anjo perguntou
p’ra deus
quando eu cairia de amor
ele apontou p’ra duas linhas do tempo
se cruzando —
a minha e a tua, paralelas
de gessinger num calendário,
riu, e disse:
a q u i


o poema de amor mais bonito da semana

eu
acordei inspirado
p’ra escrever um poema tão foda
que vão dizer:

puta que pariu

eu
talvez nunca passe
num concurso público
e das seis dezenas
acertei só uma

eu
sou ansioso
e ansiosos jogam um laço no
futuro e puxam a porra do futuro p’ro
agora e fazem caber
— sei lá como —
dentro da caixa torácica

eu
às vezes
te mando flores
com medo que você
esqueça de me amar
como se o amor fosse um
post-it

eu
já ouvi a voz
de deus e não se parecia
nada com a voz do meu pai
nem com a do cid moreira
nem com a do john wells falando na rádio
from the top of the empire state building
this is the new york’s number one hit music station

eu
acho que o relógio da vida
não é de ponteiro
é o tempo que dura um cigarro
o tempo que se leva p’ra gozar
p’ra esperar gozar
p’ra esperar parar de chover
p’ra não deixar a cerveja esfriar
(porque eu jamais teria um copo stanley)
p’ra ver as coisas envelhecerem assim que as
chamamos de novas
p’ra ouvir o barulho das máquinas cortando
sem piedade o mato alto
que vai crescer em uma semana,
enquanto em uma vida às vezes nada muda
nada cresce

eu
olho p’ra você
como o homem arrebatado
ao terceiro céu
e descubro que não é só
no terceiro céu que há coisas
inefáveis
mas em tudo aquilo
que deus
— por acidente ou não —
derramou

você
é mais bonita
que aquele poema
da Finuala Dowling

eu
já te li umas dez vezes
enquanto tomava café da manhã

(li nove vezes o poema da Finuala)

eu
adiei o poema
que’u escreveria
e não (nunca) morri


Fotografia: Ilha de Boa Viagem – Marc Ferrez (Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).

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