Peso torto

Peso torto

por Erlândia Ribeiro

24 de setembro de 2024

peso torto

tenho pensado que a cura só me vem
quando me vejo sozinha
e percebendo ao meu redor
que só eu mesma
me sustento

falo do corpo
mas falo também
da cabeça
que apoia
tudo o que
dentro
pulsa
e pesa

quantos movimentos
suporto
ou aguento?

quantos movimentos
dizem
quem eu sou?

numa noite alta
eu estraguei tudo

numa noite alta
você foi
a minha melhor surpresa

os mesmos dias
em anos passados
deslocaram uma pedra
de traumas
celan compreenderia
pizarnik compreenderia
quem é você então
que não me compreende?

amparo no meu corpo
os absurdos
de dentro
e encaixe nenhum vale
para manter esse peso torto.

impasses

(quando o grito arrebenta
aos olhos de ninguém
e tudo que se pode
é continuar escrevendo
ou atirar-se)

errantes

orientações não seguidas
pois
nossos desvios são também escolhas

quando sofremos à noite
abrimos um abismo
quando brindamos a loucura
sabemos o que é a liberdade

de destino em destino
fomos concebidos
entre o lixo e o sonho
entre contagens regressivas

círculos
quebrados
nunca célebres
sempre anti-heróis
infelizes
insubordinados

a pureza arrebenta
e você me comove
como ninguém.

Erlândia Ribeiro é escritora, tendo publicado o livro de contos superfícies irregulares pela Editora Kotter em 2019 e seu mais recente livro de poemas, vermelho/ruína pela Editora Urutau em 2021. É mestre em Estudos Literários pela UNIR e atualmente é doutoranda em Estudos Literários pela UFES. Trabalha com os diários da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972), seu objeto de vida e de pesquisa. É uma das fundadoras do Clube das Escritoras de Rondônia.