3 poemas de Raí Prado Morgado

3 poemas de Raí Prado Morgado

por Natan Schäfer

24 de setembro de 2024

Raí Prado Morgado (https://aboio.com.br/tag/rai-prado-morgado/) é estudante de Engenharia Florestal da ESALQ/USP e tem poemas publicados em diversas revistas literárias do Brasil e em uma da Argentina.

como voar com os pés no chão

I.
não te encontrar na rua de cima e então
duvidar do conceito de cidade
desacreditar da arte valorizar os muros

II.
nunca mais olhar para os dois lados
ao atravessar a rua de cima
e percebê-la como
a. o abismo do atraso
b. o centro de tudo

III.
é impossível pensar que tanta janela
transpasse pouco passado
e só quem se arrisca enxerga

IV.
(quando te encontrar na rua de cima
voltar a acreditar na vida
que o conceito de cidade carrega)

keep me where the light is

I.
a verdade é que entender por que um barco se vai
sem imaginar ao menos em qual porto atraca
é sempre uma causa perdida

II.
toda noite eu imagino a cidade explodindo
e se uma explosão ainda teria
a magia de espantar uma avenida

III.
a sabedoria de querer explícita
a relação do efeito das coisas
mais do que descobrir a verdade

IV.
ainda checo os bolsos
em busca das suas chaves

para bailar contigo entre las nubes

I.
também é caminhando que se enxerga
a cidade do chão são mais amenas
as esquinas os passos a indiferença
qualquer fala que são seja única

II.
pensar na imensidão do espaço
em que mesmo sem a presença do som
é impossível imaginar que não se possa ouvir música

III.
e apesar de tudo não parece que as coisas continuam as mesmas
(as coisas nunca
continuam as mesmas)

IV.
é sempre possível que as coisas continuem

Foto de Anna Carolina Rizzon (https://aboio.com.br/tag/anna-carolina-rizzon/).

Natan Schäfer (Ibirama, 1991) é mestre em estudos literários pela Universidade Federal do Paraná e pela Université Lumière Lyon 2. Foi professor do curso de Bacharelado em Artes Visuais da UNESPAR, membro da Psychoanalytische Bibliothek Berlin e tradutor convidado nas residências Looren América Latina (Suíça) e Résidence Passa Porta (Bélgica). É autor de Taquaras (Contravento Editorial, 2022) e tradutor de, dentre outros, Por uma insubmissão poética (Sobinfluência, 2022) e La promenade de Vénus (Venus D’Ailleurs, 2022). Atualmente é responsável pela Contravento Editorial, também assinando a coluna "A Fresta" na página da editora Aboio. Além disso, dá a ver em desenhos, pinturas, escritos e fotografias algo da poesia que lhe atravessa.