a humanidade não passa desse século & outros poemas

a humanidade não passa desse século & outros poemas

por Raí Prado Morgado

24 de setembro de 2024

a humanidade não passa desse século

a cadeira sozinha o vazio integra
carros condenados por poluição atmosférica
política nunca passou de estratégia
como as crises em tempos de guerra

hoje os ataques são por via aérea
se importa menos com a fome do que com minério
exploradores se espalham de um jeito eclético
expansão transcontinental sempre foi império

quebra ventos
recuperam a paisagem

para o governo
grilagem de terra não é verdade

a ocorrência de latifúndios
além de histórica
compõe do país uma face interna

eu te chamava primavera

as ruas engolem quem passa
a cada cem metros de calçada
encontro você porque essa cidade
tem seu rosto e o contorno
dos prédios formam seu corpo
de um modo que só vi em sonho
e nas esquinas dos bares

tento não ouvir mesmo que me fale
das ruas em paralelo que formam uma lógica
das festas populares que viram um sábado
das noites amanhecidas que abraçam os bêbados

sigo inerte para entender o que de humano
se faz celeste
e espero que a prática de contar estrelas
me faça transcender as teses
de enxergar que o desabrochar
de uma flor também carrega
algo de astronômico

o que tentar antes de amanhã

correr atrás das sílabas
que formam as es
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀tra
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀das
esquecer seu rosto
tatuar uma parábola
perseguir o mar
tocando os pés
de quem nunca foi à praia

como pássaros, vivemos

a vida é esse desespero imenso
os cachorros abandonados
atravessam a avenida cabisbaixos
como os homens desse tempo

acendemos as luzes dos apartamentos

nada nos falta senão a alegria
hoje é dia de observar a lua
passando atrás das nuvens

Raí Prado Morgado (Caraguatatuba, 1999) é membro do conselho editorial da revista Mallarmargens , da qual também é responsável pela gestão das redes sociais. Além disso, é o escritor responsável pelo Sob o Silêncio, projeto literário com mais de 50 mil seguidores, e expõe e vende itens artesanais do projeto em eventos culturais pelo estado de São Paulo. Tem poemas publicados nas revistas Subversa, Vício Velho, Mallarmargens e Ruído Manifesto , no Brasil, e pelo coletivo MásPoesia, na Argentina.