O lastro de antigas palavras, fragmentos de cartas

O lastro de antigas palavras, fragmentos de cartas

por Caio Balaio

24 de setembro de 2024

da boca

o lobo atrás da porta
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤum uivo
o homem era um muro
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤde costas
a impedir a queda do céu

não estava lá em estocolmo

mas no escuro e frio
o oco da tua voz

karamázovi karamázovi karamázovi

ainda lembro de uma cidade
toda entregue ao silêncio

o amor um país a te perseguir
uma língua ao vestígio

soㅤ strong
,london grammar

terra entre rios

aliás ㅤme diga
você sabe o que significa mesopotâmia
ㅤsabe que hoje eu posso dizer
amanhã vai ser mais difícil sem você

e toda história é nua e raio e ㅤquerido
meu amor por você ㅤjavali
inclusive escute

i will come to your river

se faltar resposta
segure o sol com as mãos e

wash my soul again

seu nome

para joão charlie

1

ler e reler
o seu nome

ler e reler
a relação entre você e o seu nome

ler e reler

você

e ainda assim
algo escapar

2

impossível imobilizar você

seu nome não é parafraseável

o que diz seu nome
não pode ser dito
de outra maneira

3

seu nome é o essencialmente não parafraseável

jacques roubaud
o seu nome diz
o que ele diz
dizendo-o

caetano romão
nunca conheci
nenhum joão
como é que são

arado

planta em mim
meu bem
teu cangote
meu bem
mango libre
meu bem

cultura
meu bem
é te cuidar

Caio Balaio nasceu em 1995, em Fortaleza, Ceará. É formado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal do Ceará, revisor de textos e poeta. Já publicou os livros de poemas “beleléu” (Cachalote, 2024) e “vermelho-colisão” (Urutau, 2021) e a plaquete “termômetro de plástico” (Fictícia, 2023).