5 poemas de Luz dos Monstros, de Paulo Scott

5 poemas de Luz dos Monstros, de Paulo Scott

por Natan Schäfer

24 de setembro de 2024

Paulo Scott (https://aboio.com.br/tag/paulo-scott) é autor de, entre outros, A timidez do monstro (https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788573027600/a-timidez-do-monstro) e Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo (https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535924695/mesmo-sem-dinheiro-comprei-um-esqueite-novo?idtag=8b590d5a-7d0b-42b9-ac24-6a7a936d017c). Seus textos estão publicados em Portugal, Inglaterra, China, Argentina, Alemanha, Croácia, México, França e Estados Unidos.

Os poemas a seguir fazem parte de Luz dos Monstros, novo livro de Paulo Scott pela Editora Aboio. Clica aqui para garantir o teu! (https://aboio.com.br/produto/luz-dos-monstros-paulo-scott/)

nas praças, outras lonas
muitos ingressos-brindes
coreografias de sacos plásticos
abanando seus punhos
ao redor das barracas

o barro de seus estômagos
aspirando ao que
só deveria pertencer
aos animais noturnos
que cerzem seu minério
filtram-se do mundo

e dançam sua própria luz

a língua te espera
te reitera no sonho e no sorriso

tudo que (do Osório matinal) não se habitua à prestação

decerto pelo chegar da tristeza
a tal luz do existir
(e do perceber)

desvelos entre o estrago
timbre das gerações
por Silviano Santiago
(que de novo canta seu canto sozinho)
incessante e caminho

de quem levanta
e do que tem florescer


é tarde, muito tarde
e os cosméticos aguardam
a reciclagem de maneiras e fórmulas
cada vez mais dispendiosas
de reencontrar o perdão

o hábito de fingir nada saber
sobre o faminto verme da beleza

sem resgate e sem jeito
sem a armadilha de haver casa e volta
para as luzes que em mim te flagram
porque passam acesas
(faróis em vermelho)
na exigência dos ladrilhos
a pressa dos marinheiros

e, no lacrimejar, esse mal redigir
a incalculável reserva dos banheiros

não é no jardim da ignorância
o corpo que não quer responder

contingência no possível do tempo
combinando-nos em olhos que esqueceram

nada é familiar nesse ouvir
o erro que não condiz

no que pusemos a limpo
porque no medo daria, juro, daria

se você não estivesse rindo

não ter tamanho para a arte
aguardar de meus pais
um sorriso que só acontecia
assistindo a filmes de violência

certeza de família
que se repetia
uma vez por semana –
show das estrelas

quando a morte encenada
acelerava a vida
enquanto eu procurava
o que seria do meu lutar

(tão cedo e atrás)
no que, desassistido
(não saldaria)
nunca mais iria embora

Foto de Luísa Machado (https://aboio.com.br/tag/luisa-machado/).

Natan Schäfer (Ibirama, 1991) é mestre em estudos literários pela Universidade Federal do Paraná e pela Université Lumière Lyon 2. Foi professor do curso de Bacharelado em Artes Visuais da UNESPAR, membro da Psychoanalytische Bibliothek Berlin e tradutor convidado nas residências Looren América Latina (Suíça) e Résidence Passa Porta (Bélgica). É autor de Taquaras (Contravento Editorial, 2022) e tradutor de, dentre outros, Por uma insubmissão poética (Sobinfluência, 2022) e La promenade de Vénus (Venus D’Ailleurs, 2022). Atualmente é responsável pela Contravento Editorial, também assinando a coluna "A Fresta" na página da editora Aboio. Além disso, dá a ver em desenhos, pinturas, escritos e fotografias algo da poesia que lhe atravessa.