mitologia
tateando sobre o escuro,
alfinetando sonhos
e ossos,
todo ócio ruminando
um cativo silêncio
que me faz companhia.
fósforos acesos,
afetos desalinhados
perseverando o destino.
uma maré baixa
me acolhia.
todo silêncio entre
seus lábios e os meus
transportam um incêndio
desalinhado sob medida.
dois corpos findando
a odisseia e a ilíada.
dalila
o início de um dilúvio
à deriva, ao raiar da aurora
um novo augúrio,
educar meus olhos,
educar meus lábios,
amar-te silenciosamente,
perto da silhueta
de árvores silenciosas.
deixe-me dançar
como dalila,
enquanto firmo os pilares
de uma nova consciência,
enquanto ensino-te
uma nova forma de perigo,
como adestrar
a raiva convulsa
diante da sutura
imediata das palavras.
ílio
sob os vestígios da tua memória fiz uma promessa a minha escrita:
jamais deixar irromper em morte a solidão que me fascina.
magnólia
amo o silêncio como quem venera o mistério.
útero
ensina-me a compreensão
confessa dos desejos,
amor, ensina-me
como se eu fosse medeia
a parir os frutos
desse ventre bárbaro,
num dia de sol a pino,
numa noite de lua cheia.
Mariana Artigas é poeta e nasceu em Curitiba-PR. É graduada em Letras Português-Inglês pela PUC-PR. Publicou o livro de poesia “Ossatura Sutil” (Editora Urutau, 2022). Atualmente, pesquisa, leciona e dedica-se ao universo da prosa. “Felina Sublimação” (Editora Cachalote, 2025) é seu segundo livro.